30.6.09
29.6.09
Mafalda teen 3
Por Dandi
A ilustradora queria passar uma imagem de ativista e intelectual para a personagem, mas de um modo jovem, então partiu para uma inspiração de fora do mundo dos quadrinhos: "me veio a mente os artistas indies, e achei que seria uma interação curiosa".
A ilustradora queria passar uma imagem de ativista e intelectual para a personagem, mas de um modo jovem, então partiu para uma inspiração de fora do mundo dos quadrinhos: "me veio a mente os artistas indies, e achei que seria uma interação curiosa".
Mafalda teen 2
Por Danila Ribeiro
A autora desta versão comenta que a criação de Quino é uma de suas personagens favoritas e se inspirou em uma passagem clássica dela para sua colaboração no blog: "Quando decidimos fazer a Mafalda jovem logo pensei que sua essência não mudaria: sua posição frente ao mundo... dai me lembrei de uma das tirinhas em que ela se preocupava com a Asia..."
A autora desta versão comenta que a criação de Quino é uma de suas personagens favoritas e se inspirou em uma passagem clássica dela para sua colaboração no blog: "Quando decidimos fazer a Mafalda jovem logo pensei que sua essência não mudaria: sua posição frente ao mundo... dai me lembrei de uma das tirinhas em que ela se preocupava com a Asia..."
28.6.09
Salada ilustrada - Mafalda teen
Quem acompanha a movimentação dos quadrinhos brasileiros "em estilo mangá" deve saber que existe uma tendência nos últimos lançamentos feitos no Brasil. Da mesma forma que fez escola e provocou uma onda de personagens infantis nos anos 80 e 90 - como as versões mirins das celebridades Ana Maria Braga, Gugu Liberato, Leandro e Leonardo, Airton Senna, Trapalhões e afins - Maurício de Sousa antecipou a tendência desta década no Brasil com a Turma da Mônica Jovem, lançada em meados de 2008. Não demorou nem um ano para surgir um seguidor da juvenilização de antigos personagens infantis com a controversa Luluzinha teen.
Pode-se dizer que o brasileiro não estava exatamente inovando, já que, por exemplo, no Japão, em 2006, dois anos depois do seriado das Meninas Superpoderosas ter sido encerrado nos EUA, o animê Demashitaa! PowerPuff Girls Z apresentou a mesma proposta: ou seja, versões adolescentes de Lindinha, Florzinha e Docinho. De qualquer forma, o pai da Mônica levou a fama e garantiu o pioneirismo deste lado do Equador pelo menos.
Levando na brincadeira esse modismo, um grupo de desenhistas lançou o blog Salada Ilustrada com uma série dedicada justamente a pegar um ícone infantil dos quadrinhos (não confundir com ícone dos quadrinhos infantis) e também fazer o relógio andar para alcançar a puberdade da personagem. A escolhida como primeira vítima foi a criação mais famosa do hermano Quino: a existencialista revolucionária Mafalda.
Como entre os desenhistas citados estão os dois mangakas mencionados nos posts anteriores, vamos começar a seleção de Mafaldas teen com eles. Primeiro Douglas MCT, que se inspirou no célebre quadro de Eugéne Delacroix "A Liberdade Guiando o Povo" para sua versão (desconfio que ela iria preferir a Igualdade como guia...)
Ele explicou detalhes do desenho naquele blog: "Da direita para esquerda, outros personagens de seu universo também cresceram e tomaram uma posição ao seu lado: seu irmão caçula Guille, o sonhador Felipe, a Mafalda revolucionária em si, e o ambicioso Manolito. Ajoelhada, está a perspicaz Libertad, ali confusa na situação".
Ulisses Perez também fez sua experiência e, ao contrário do parceiro de Hansel e Gretel, não trocou a influência nipônica por inspirações gaulesas:
Mas ele fez questão de esclarecer que não está escrito nada em japonês naquela simulação de ideogramas: "é só brincadeira!"
Pode-se dizer que o brasileiro não estava exatamente inovando, já que, por exemplo, no Japão, em 2006, dois anos depois do seriado das Meninas Superpoderosas ter sido encerrado nos EUA, o animê Demashitaa! PowerPuff Girls Z apresentou a mesma proposta: ou seja, versões adolescentes de Lindinha, Florzinha e Docinho. De qualquer forma, o pai da Mônica levou a fama e garantiu o pioneirismo deste lado do Equador pelo menos.
Levando na brincadeira esse modismo, um grupo de desenhistas lançou o blog Salada Ilustrada com uma série dedicada justamente a pegar um ícone infantil dos quadrinhos (não confundir com ícone dos quadrinhos infantis) e também fazer o relógio andar para alcançar a puberdade da personagem. A escolhida como primeira vítima foi a criação mais famosa do hermano Quino: a existencialista revolucionária Mafalda.
Como entre os desenhistas citados estão os dois mangakas mencionados nos posts anteriores, vamos começar a seleção de Mafaldas teen com eles. Primeiro Douglas MCT, que se inspirou no célebre quadro de Eugéne Delacroix "A Liberdade Guiando o Povo" para sua versão (desconfio que ela iria preferir a Igualdade como guia...)
Ele explicou detalhes do desenho naquele blog: "Da direita para esquerda, outros personagens de seu universo também cresceram e tomaram uma posição ao seu lado: seu irmão caçula Guille, o sonhador Felipe, a Mafalda revolucionária em si, e o ambicioso Manolito. Ajoelhada, está a perspicaz Libertad, ali confusa na situação".
Ulisses Perez também fez sua experiência e, ao contrário do parceiro de Hansel e Gretel, não trocou a influência nipônica por inspirações gaulesas:
Mas ele fez questão de esclarecer que não está escrito nada em japonês naquela simulação de ideogramas: "é só brincadeira!"
27.6.09
Hansel & Gretel - esboço exclusivo
Por Ulisses Perez
Recebi de Douglas MCT o esboço acima, feito por seu parceiro Ulisses Perez para um dos personagens mais misteriosos do mangá que a dupla vai lançar em outubro, durante a Fest Comix. Roteirizado pelo primeiro e desenhado pelo segundo, a minissérie em três capítulos se apropria de vários personagens do folclore mundial - a começar por João e Maria, com os nomes mantidos no original em alemão no título da obra - e os funde com elementos de steampunk e fantasia. No esboço já é possível ver algo da tecnologia movida a vapor que estará presente na HQ em estilo japonês.
Sobre os magakas brazucas:
Douglas MCT é escritor com um livro lançado ano passado e mais dois programados para este ano. Nesta área literária, ele já recebeu alguns prêmios por seus textos. Foi diagramador, designer gráfico e trabalhou por quase quatro anos como roteirista da Turma da Mônica. Atualmente, atua como roteirista para games, animações e quadrinhos.
Ulisses Perez é conhecido dos fãs de quadrinhos de inspiração nipônica do Brasil. Desenvolveu três edições especiais de Combo Rangers, desenhou a revista Pokémon Club além de ter sido o ilustrador oficial de personagens e séries como Sakura Card Captor e Dragon Ball para editoras nacionais que detinham os direitos de publicação dessas marcas no país.
Recebi de Douglas MCT o esboço acima, feito por seu parceiro Ulisses Perez para um dos personagens mais misteriosos do mangá que a dupla vai lançar em outubro, durante a Fest Comix. Roteirizado pelo primeiro e desenhado pelo segundo, a minissérie em três capítulos se apropria de vários personagens do folclore mundial - a começar por João e Maria, com os nomes mantidos no original em alemão no título da obra - e os funde com elementos de steampunk e fantasia. No esboço já é possível ver algo da tecnologia movida a vapor que estará presente na HQ em estilo japonês.
Sobre os magakas brazucas:
Douglas MCT é escritor com um livro lançado ano passado e mais dois programados para este ano. Nesta área literária, ele já recebeu alguns prêmios por seus textos. Foi diagramador, designer gráfico e trabalhou por quase quatro anos como roteirista da Turma da Mônica. Atualmente, atua como roteirista para games, animações e quadrinhos.
Ulisses Perez é conhecido dos fãs de quadrinhos de inspiração nipônica do Brasil. Desenvolveu três edições especiais de Combo Rangers, desenhou a revista Pokémon Club além de ter sido o ilustrador oficial de personagens e séries como Sakura Card Captor e Dragon Ball para editoras nacionais que detinham os direitos de publicação dessas marcas no país.
26.6.09
Mangá steampunk - Hansel & Gretel
Por falar na dobradinha mangá e steampunk. O roteirista Douglas MCT e o desenhista Ulisses Perez anunciam uma novidade inspirada nas onipresentes HQs japonesas e dentro do gênero vitoriano alternativo. Os dois assinaram contrato com a New Pop, uma das quatro maiores editoras de mangá do Brasil e parte impressa do site Anime Pró para a publicação de Hansel & Gretel, uma série de quadrinhos em três volumes. O projeto conta com um blog para anunciar o andamento da publicação e divulgar imagens da série. Foi de lá que peguei o belo teaser abaixo e a promissora sinopse da história que já havia anunciado no meu outro blog:
Hansel e Gretel são um casal de gêmeos e guardam um trauma recente: passaram meses sequestrados por uma velha canibal numa casa feita de doces falsos, nas entranhas do Bosque de Sidh. Finalmente conseguem fugir do cativeiro, mutilados, e com um desejo de vingança: buscar seu pai e matá-lo. Afinal foi ele foi o responsável por abandoná-los na floresta, não?
Seguindo rastros duvidosos e informações vagas, os irmãos chegam até a metrópole Echtra, uma cidade com um enorme centro industrial, responsável pelo poderio financeiro, militar e religioso daquele lugar, movido a ferro e vapor.
Em sua jornada, eles se deparam com outras figuras, que de uma forma ou de outra lhes trazem problemas e auxílio, em diversos sentidos. Uma dessas é uma garotinha que descobre-se licantropa e supostamente matou a própria avó, tornando-se uma fugitiva em seu lar. Há um arqueiro mercenário que vem a Echtra com o intuito de matar um dragão... ou algo assim, e teme que tal besta poderá destruir qualquer coisa viva; e um felino humanóide, disposto a proteger os irmãos... Custe o que custar! Uma caipira balonista, colega de três criaturas bizarras de um circo de horrores; e uma dançarina de cabaré que também é caçadora nas horas vagas. Além de uma bela jovem anti-social, que não confia em ninguém e tem pesadelos constantes, que mal sabe, mas podem determinar o fim de tudo em que acredita.
Ao mesmo tempo os gêmeos são caçados por uma figura maligna, fruto de um amor conturbado e trágico, capaz de controlar as trevas e atravessar as sombras, em busca mais do que uma simples vingança...
Numa realidade steampunk e fantástica, Hansel & Gretel é uma série em mangá, que brinca de forma perversa com as fábulas conhecidas do grande público, trazendo tais personagens e situações para uma realidade nada bela.
25.6.09
A música das esferas - o mangá
Por Alexandre Lancaster
Estou tratanto aqui do visual por trás da noveleta "A música das esferas" que vai ser publicada na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário. Mas a verdade é que a história e seus personagens nasceram como um projeto de quadrinhos do Alexandre "Lancaster" Soares. Expresso! é o nome do mangá concebido pelo autor, que mistura conceitos de steampunk no Brasil republicano do final do século XIX.
Aqui embaixo podemos ver uma amostra dos quadrinhos, com as primeiras páginas da história "Os piratas invisíveis". Para ampliar, é só clicar na imagem.
Estou tratanto aqui do visual por trás da noveleta "A música das esferas" que vai ser publicada na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário. Mas a verdade é que a história e seus personagens nasceram como um projeto de quadrinhos do Alexandre "Lancaster" Soares. Expresso! é o nome do mangá concebido pelo autor, que mistura conceitos de steampunk no Brasil republicano do final do século XIX.
Aqui embaixo podemos ver uma amostra dos quadrinhos, com as primeiras páginas da história "Os piratas invisíveis". Para ampliar, é só clicar na imagem.
24.6.09
Steampunk - A música das esferas
Ainda sobre a coletânea em que vai ser publicada "Cidade Phantástica". Não tenho muitos detalhes ainda, fora que o título deve ser Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, a editora é a Tarja e a previsão é que o livro esteja pronto até o final de julho. Uma outra coisa que sei é que dividirei as páginas com um dos beta-readers da minha noveleta, Alexandre Soares, de quem tembém li o texto, "Música das esferas", uma benvinda obra pop no ambiente às vezes sisudo demais da ficção científica nacional.
Alexandre, também conhecido como Lancaster, é um sócio deste blog. Além de manter uma página especializada em animes e mangás que recomendo fortemente - Maximum Cosmo - ele foi um dos autores que aceitou meu convite e produziu um excelente conto para o universo dos Terroristas da Conspiração. Fora tudo isso, ele é desenhista e eu vou ter o prazer de inclui-lo no meu especial de Imagens Fantásticas.
Diretamente da galeria dele, do site deviantART, vocês podem ver logo abaixo o garoto gênio que é o protagonista da noveleta "Música das esferas".
Alexandre, também conhecido como Lancaster, é um sócio deste blog. Além de manter uma página especializada em animes e mangás que recomendo fortemente - Maximum Cosmo - ele foi um dos autores que aceitou meu convite e produziu um excelente conto para o universo dos Terroristas da Conspiração. Fora tudo isso, ele é desenhista e eu vou ter o prazer de inclui-lo no meu especial de Imagens Fantásticas.
Diretamente da galeria dele, do site deviantART, vocês podem ver logo abaixo o garoto gênio que é o protagonista da noveleta "Música das esferas".
23.6.09
Inspirações visuais 5
Por Alfred Gilbert
Continuando com as ilustrações de "A Ponte de Thor", podemos ver abaixo a interpretação de Gilbert para o milionário viúvo de Maria Pinto, o americano J. Neil Gibson, um implacável homem de negócios que se tornou milionário encontrando ouro na Amazônia.
Watson fez uma descrição nada simpática do personagem na primeira vez que o viu, na história que se passa, segundo os estudiosos da cronologia das aventuras de Sherlock Holmes, no ano de 1900:
Continuando com as ilustrações de "A Ponte de Thor", podemos ver abaixo a interpretação de Gilbert para o milionário viúvo de Maria Pinto, o americano J. Neil Gibson, um implacável homem de negócios que se tornou milionário encontrando ouro na Amazônia.
Watson fez uma descrição nada simpática do personagem na primeira vez que o viu, na história que se passa, segundo os estudiosos da cronologia das aventuras de Sherlock Holmes, no ano de 1900:
Às onze horas em ponto, ouvimos pesados passos na escada, e o famoso milionário foi introduzido na sala. Assim que olhei para ele, compreendi não somente os temores e a aversão de seu administrador, mas também as pragas que tantos rivais nos negócios lhe têm amontoado sobre a cabeça. Se eu fosse escultor e desejasse idealizar um bem-sucedido homem de ação, de nervos de aço e consciência impenetrável, escolheria o Sr. Neil Gibson como modelo. A figura alta, atlética, angulosa, tinha um não sei quê de faminto e ganancioso. Um Abraham Lincoln que tivesse sido talhado para o mal, em vez de o ser para atos elevados, daria uma idéia do homem. O rosto podia ser esculpido em granito, tão duros eram os traços, anguloso, indiferente ao remorso, com sulcos profundos como marcas de muitas crises. Dois olhos cinzentos e frios, encimados por sobrancelhas eriçadas, examinaram-nos astutamente. Fez uma inclinação superficial, e, quando Holmes mencionou o meu nome, logo, com um ar soberano de quem manda e não pede, puxou uma cadeira para perto do meu companheiro e sentou-se, quase tocando-o com seus joelhos ossudos.
Inspirações visuais 4
Jules Verne não é a única fonte de inspiração para "Cidade Phantástica". Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) é outro autor que emprestou conceitos para a noveleta. No caso, o empréstimo veio de uma das 60 histórias que o escritor inglês escreveu para sua criação mais famosa, o detetive mais conhecido do mundo da ficção, Sherlock Holmes.
"A ponte de Thor" foi o primeiro texto de um autor estrangeiro que publiquei neste blog, justamente pela importância que ele guarda para o entendimento de minha noveleta steampunk. Entre os estudiosos da obra de Doyle, aquele conto tem grande importância já pela abertura, que deixa claro que o narrador das histórias do detetive, o caro Watson, não narrava todas as aventuras que vivera com seu colega de Baker St.
Este gancho foi aproveitado por muitos escritores que revisitaram mais tarde, principalmente depois de a obra ter caído em domínio público, a carreira de Mr. Holmes e de seu ajudante. Num post complementar ao conto, lembrei de um desses casos:
E é exatamente pela presença desta personagem brasileira que o conto me chamou a atenção e que fiz questão de usá-lo na composição de "Cidade Phantástica". Novamente para me manter dentro do especial deste mês, destaco aqui a parte visual da história, uma vez que "The Problem of Thor Bridge" foi originalmente publicado na Strand Magazine, no início de 1922, com sete ilustrações assinadas por Alfred Gilbert, artista que já havia contribuido com Conan Doyle na mesma revista em pelo menos outros dois contos "His Last Bow", de setembro de 1917, e "The Adventure of the Mazarin Stone".
Sem mais delongas, vemos aqui ao lado a versão de Alfred Gilbert para esta brasileira que, apesar de já estar morta no início da história, se revela uma das mais fascinantes personagens femininas que já cruzaram o caminho de Sherlock Holmes.
"A ponte de Thor" foi o primeiro texto de um autor estrangeiro que publiquei neste blog, justamente pela importância que ele guarda para o entendimento de minha noveleta steampunk. Entre os estudiosos da obra de Doyle, aquele conto tem grande importância já pela abertura, que deixa claro que o narrador das histórias do detetive, o caro Watson, não narrava todas as aventuras que vivera com seu colega de Baker St.
Em algum ponto das abóbadas do banco de Cox & Cia., na Charing Cross, há uma caixa de estanho com vários documentos. Essa caixa, bastante estragada pelas viagens e pelo uso, tem o meu nome pintado na tampa. "Dr. John H. Watson, do Antigo Exército Indiano". Os inúmeros papéis de que está atulhada são quase todos relatórios de casos ou problemas curiosos, nos quais, em várias ocasiões, o Sr. Sherlock Holmes andou envolvido. Alguns, e por sinal não os menos interessantes, foram autênticos fracassos, e como tal quase não merecem ser narrados, uma vez que não oferecem nenhuma explicação final. Um problema sem solução pode interessar ao estudioso, mas dificilmente deixará de aborrecer o leitor casual. (...) A história que se segue é extraída da minha própria experiência.
Este gancho foi aproveitado por muitos escritores que revisitaram mais tarde, principalmente depois de a obra ter caído em domínio público, a carreira de Mr. Holmes e de seu ajudante. Num post complementar ao conto, lembrei de um desses casos:
Vale lembrar ainda, que esta aventura canônica de Sherlock Holmes tem uma ressonância muito grande com um outro conto do personagem, não-oficial, que foi publicado no Brasil pela versão nacional da Isaac Asimov Magazine (a edição número 18, para ser exato). Originalmente impresso na revista Analog de janeiro de 1990, "O caso do ácido carbônico" (ou "The carbon papers"), foi escrito pelo inglês John Gribbin, e na solução daquela aventura, o detetive mais famoso do mundo utilizou um método dedutivo bastante semelhante ao empregado no caso abaixo, no qual ele investiga a morte de uma cidadã brasileira, Maria Pinto, nascida em Manaus e casada com um multimilionário americano, J. Neil Gibson.
E é exatamente pela presença desta personagem brasileira que o conto me chamou a atenção e que fiz questão de usá-lo na composição de "Cidade Phantástica". Novamente para me manter dentro do especial deste mês, destaco aqui a parte visual da história, uma vez que "The Problem of Thor Bridge" foi originalmente publicado na Strand Magazine, no início de 1922, com sete ilustrações assinadas por Alfred Gilbert, artista que já havia contribuido com Conan Doyle na mesma revista em pelo menos outros dois contos "His Last Bow", de setembro de 1917, e "The Adventure of the Mazarin Stone".
Sem mais delongas, vemos aqui ao lado a versão de Alfred Gilbert para esta brasileira que, apesar de já estar morta no início da história, se revela uma das mais fascinantes personagens femininas que já cruzaram o caminho de Sherlock Holmes.
22.6.09
Inspirações visuais 3
Por Henri Montaut
Esta ilustração é do momento do lançamento do projétil Lunar e dá uma ideia do poder de fogo daquele que era o maior canhão já construído em todos os tempos.
Trechos do texto de Jules Verne dão conta da importância que teve tal evento não só para os Estados Unidos, mas para todo o mundo:
Era o dia primeiro de dezembro, Verne não deixou claro de que ano, só sabemos que a história do livro começa no ano anterior, pouco após o fim da Guerra Civil americana concluída em 1865. Provavelmente, o feito histórico aconteceu entre a publicação daquele livro e a de sua continuação direta, Autor de la Lune, de 1869, na qual finalmente os leitores ficaram sabendo do destino dos três viajantes, Impey Barbicane, Capitão Nicholl e Michel Ardan.
A noveleta "Cidade Phantástica" também se passa entre essas duas datas, ao mesmo tempo em que o mundo se preparava para testemunhar aquele feito histórico na Flórida.
Esta ilustração é do momento do lançamento do projétil Lunar e dá uma ideia do poder de fogo daquele que era o maior canhão já construído em todos os tempos.
Trechos do texto de Jules Verne dão conta da importância que teve tal evento não só para os Estados Unidos, mas para todo o mundo:
Todos os povos da Terra ali tinham os seus representantes; todos os dialetos do Mundo se falavam ali ao mesmo tempo. Dir-se-ia a confusão das línguas, como nos tempos bíblicos da Torre de Babel. Ali, as diversas classes da sociedade americana confundiam-se numa igualdade absoluta.
Banqueiros, lavradores, marinheiros, moços de recados, plantadores de algodão, negociantes, barqueiros, magistrados, acotovelavam - se numa sem-cerimônia primitiva.
Era o dia primeiro de dezembro, Verne não deixou claro de que ano, só sabemos que a história do livro começa no ano anterior, pouco após o fim da Guerra Civil americana concluída em 1865. Provavelmente, o feito histórico aconteceu entre a publicação daquele livro e a de sua continuação direta, Autor de la Lune, de 1869, na qual finalmente os leitores ficaram sabendo do destino dos três viajantes, Impey Barbicane, Capitão Nicholl e Michel Ardan.
A noveleta "Cidade Phantástica" também se passa entre essas duas datas, ao mesmo tempo em que o mundo se preparava para testemunhar aquele feito histórico na Flórida.
Inspirações visuais 2
Por Henri Montaut
Aqui, outra bela ilustração do artista, entre as 43 que produziu para o livro de seu conterrâneo. Neste quadro, colorizado mais tarde, Montaut deu forma aos responsáveis pelo projeto que levou o homem da Terra à Lua.
Esta é a imagem que abre o livro. Nela vemos alguns dos membros do fictício Gun Club de Baltimore, uma organização que reunia os maiores engenheiros bélicos dos Estados Unidos, um grupo que sob a presidência de Impey Barbicane pôs seu conhecimento em prol de uma causa pacífica.
Em uma sala toda decorada com armas nas paredes, podemos ver de pé o Coronel Blomsberry, um militar que perdeu ambas as mãos na Guerra Civil e que tenta convencer os demais a levar a experoência em balística dos americanos para as guerras da Europa; sentados, vemos Tom Hunter, carbonizando suas pernas de pau no calor da lareira; de costas para nós, o veterano Bilsby, que perdeu os dentes servindo ao general Sherman; e com seu gancho de ferro no lugar da mão, o secretário J.T. Maston, fiel escudeiro do presidente Barbicane.
Aqui, outra bela ilustração do artista, entre as 43 que produziu para o livro de seu conterrâneo. Neste quadro, colorizado mais tarde, Montaut deu forma aos responsáveis pelo projeto que levou o homem da Terra à Lua.
Esta é a imagem que abre o livro. Nela vemos alguns dos membros do fictício Gun Club de Baltimore, uma organização que reunia os maiores engenheiros bélicos dos Estados Unidos, um grupo que sob a presidência de Impey Barbicane pôs seu conhecimento em prol de uma causa pacífica.
Em uma sala toda decorada com armas nas paredes, podemos ver de pé o Coronel Blomsberry, um militar que perdeu ambas as mãos na Guerra Civil e que tenta convencer os demais a levar a experoência em balística dos americanos para as guerras da Europa; sentados, vemos Tom Hunter, carbonizando suas pernas de pau no calor da lareira; de costas para nós, o veterano Bilsby, que perdeu os dentes servindo ao general Sherman; e com seu gancho de ferro no lugar da mão, o secretário J.T. Maston, fiel escudeiro do presidente Barbicane.
Cidade Phantástica -Inspirações visuais
Bem, a falta do computador em casa não me deixou comentar direito uma boa notícia no último dia 17. Uma noveleta que escrevi a convite para participar de uma coletânea de textos steampunk foi aprovada pelos organizadores. Assim sendo, muito provavelmente em julho, terei novidades a contar, assim que a editora autorizar.
Para me ajudar no processo de escrita daquele texto, o maior e mais complexo em termos ficcionais que já fiz, criei um blo homônimo à noveleta, o Cidade Phantástica. É de lá que extraio trechos de um dos primeiros post no qual expliquei os conceitos por trás da minha noveleta.
Retomando, para me manter fiel ao espírito das postagens deste mês aqui no TerrorCon, vou publicar aqui a parte visual dessas minhas fontes de inspiração que, assim como os livros que ilustraram, também estão em domínio público. Para começar, uma espécie imagem símbolo da minha noveleta pode ser vista aqui neste post.
Ela foi desenhada por Henri Montaut (1825-1890) para um dos livros que mais contribuíram para meu texto, De la Terre à la Lune do também francês Jules Verne (1828-1905). Publicado em 1865, o romance narra uma experiência pioneira empreendida nos Estados Unidos: a criação de um supercanhão capaz de lançar um projétil até nosso satélite natural. A ilustração retrata a usina de Golsdpring, uma das que ajudaram a produzir as invenções utilizadas naquele projeto que antecipou por décadas a primeira viagem do homem à Lua. Mas dá uma bela ideia de como seria a cidade do Rio de Janeiro se uma industrialização massiva e precoce ocorresse na segunda metade do século XIX.
Para me ajudar no processo de escrita daquele texto, o maior e mais complexo em termos ficcionais que já fiz, criei um blo homônimo à noveleta, o Cidade Phantástica. É de lá que extraio trechos de um dos primeiros post no qual expliquei os conceitos por trás da minha noveleta.
Normalmente, um texto do tipo parte do pressuposto de algum ponto de divergência entre a nossa história e a do universo ficcional em questão. Um exemplo é o livro The difference engine, de 1990, escrito a quatro mãos pelos criadores do movimento cyberpunk Willian Gibson e Bruce Sterling. Na obra, a hipótese de partida é que o cientista e matemático inglês Charles Babbage (1791-1871) teria construído uma máquina (que chegou mesmo a projetar) : o primeiro computador do mundo, baseado apenas em peças mecânicas.
Em "Cidade Phantástica" o ponto de mudança imaginado ocorre nas decisões tomadas por D. Pedro II (1825-91). Aconselhado por um consórcio de empresários, liderado por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá (1813-89), o Imperador dos Trópicos assume um governo muito mais pragmático e liberal que o de nossa realidade, costurando acordos de paz com os países vizinhos, principalmente o Paraguai, que se torna nosso maior aliado no continente, evitando a Guerra da Tríplice Aliança (1864-70). Além disso, neste mundo, a abolição da escravatura ocorreu bem antes, por volta de 1850, quando em nossa linha do tempo de fato ocorreu apenas a proibição do tráfico de negros vindos da África, graças a lei Eusébio de Queirós.
Os reflexos dessas medidas podem ser sentidos em um país muito mais industrializado que o nosso, com estradas de ferro ligando todos os extremos do território nacional. Investimentos de companhias internacionais e massas de imigrantes também foram atraídos de maneira muito mais aguda, uma vez que tanto a Europa quanto os Estados Unidos permaneceram envolvidos em conflitos armados naquele período (um exemplo é a Guerra da Secessão dos EUA, que durou de 1861 a 1865). Boa parte da ação se passa na capital do Império, São Sebastião do Rio de Janeiro, a Cidade Phantástica do título, local que se tornou a maior metrópole do continente.
Além de alterações em episódios históricos, a noveleta também conta com a participação de vários personagens de obras nacionais e estrangeiras que caíram em domínio público.
Retomando, para me manter fiel ao espírito das postagens deste mês aqui no TerrorCon, vou publicar aqui a parte visual dessas minhas fontes de inspiração que, assim como os livros que ilustraram, também estão em domínio público. Para começar, uma espécie imagem símbolo da minha noveleta pode ser vista aqui neste post.
Ela foi desenhada por Henri Montaut (1825-1890) para um dos livros que mais contribuíram para meu texto, De la Terre à la Lune do também francês Jules Verne (1828-1905). Publicado em 1865, o romance narra uma experiência pioneira empreendida nos Estados Unidos: a criação de um supercanhão capaz de lançar um projétil até nosso satélite natural. A ilustração retrata a usina de Golsdpring, uma das que ajudaram a produzir as invenções utilizadas naquele projeto que antecipou por décadas a primeira viagem do homem à Lua. Mas dá uma bela ideia de como seria a cidade do Rio de Janeiro se uma industrialização massiva e precoce ocorresse na segunda metade do século XIX.
20.6.09
Fofysbot
Por Carol Grilo
Para concluir a participação do clã Iguti no meu blog, eis o trabalho de Carol Grilo, esposa de Ivan Jerônimo da série "Robotopia" e nora de Julia Iguti da série "Xilogravuras Mitológicas". Enquanto o site de sua empresa, a Fofys Factory, não fica pronto confiram uma galeria dos trabalhos da Carol no Flickr clicando no nome dela acima.
Para concluir a participação do clã Iguti no meu blog, eis o trabalho de Carol Grilo, esposa de Ivan Jerônimo da série "Robotopia" e nora de Julia Iguti da série "Xilogravuras Mitológicas". Enquanto o site de sua empresa, a Fofys Factory, não fica pronto confiram uma galeria dos trabalhos da Carol no Flickr clicando no nome dela acima.
19.6.09
18.6.09
17.6.09
Robotopia
Por Ivan Jerônimo
Dando início a uma série de ilustrações de Ivan Jerônimo com o tema de robôs, todas feitas a lápis e finalizadas em mesa digitalizadora e com programa vetorial. Este quadro levou o nome de "Paisagem".
Dando início a uma série de ilustrações de Ivan Jerônimo com o tema de robôs, todas feitas a lápis e finalizadas em mesa digitalizadora e com programa vetorial. Este quadro levou o nome de "Paisagem".
16.6.09
14.6.09
Xilogravuras mitológicas
Os posts anteriores são imagens de uma história em quadrinhos baseada num conto meu, como eu disse, que por sua vez é inspirado por uma música da banda Os Mutantes. Mas não apenas isso. Parte da mistura mitológica que fiz naquele texto partiu de uma ideia que tive ao visitar uma mostra de xilogravuras ano passado.
A artista que assinava a exposição era Julia Iguti, mãe do já citado Ivan Jerônimo, tia de Fernando Trevisan, resenhador oficial dos contos publicados aqui, e sogra de Carol Grilo, que logo vai fazer parte do acervo visual deste blog.
Nas próximas postagens vou publicar alguns de seus trabalhos, que podem ser vistos em sua galeria no Flickr. Aqui vai a visão de Julia para Medusa, que serviu de ilustração para o convite da exposição:
A artista que assinava a exposição era Julia Iguti, mãe do já citado Ivan Jerônimo, tia de Fernando Trevisan, resenhador oficial dos contos publicados aqui, e sogra de Carol Grilo, que logo vai fazer parte do acervo visual deste blog.
Nas próximas postagens vou publicar alguns de seus trabalhos, que podem ser vistos em sua galeria no Flickr. Aqui vai a visão de Julia para Medusa, que serviu de ilustração para o convite da exposição:
13.6.09
Diabólicos esboços - em cores
9.6.09
Diabólicos esboços
Certo dia, para ser exato no 11 de Setembro do ano passado, recebi um comentário de um desenhista e animador interessado em transformar alguns de meus contos para os quadrinhos. André Moreira Aguiar era o nome do figura e da lista de meia dúzia de textos que ele teria à sua disposição, escolheu "A Diabólica Comédia" para a primeira adaptação.
Mandei para o cara um roteiro ampliando o conto, introduzindo novos personagens e aumentando o número de diálogos, para facilitar a transposição. Passado um tempo, o artista me mandou alguns esboços e tratamentos dos protagonistas.
Um bom exemplo, é a página abaixo, na qual vemos o personagem principal descendo as escadarias de um palácio real. O que no conto era descrito como:
ganhou esta tradução visual (clique na figura para uma boa ampliação):
Nas próximas postagens, vou publicar a visão de André Aguiar para o casal que protagoniza a história, baseada na música "Ave, Lúcifer" dos Mutantes.
Mandei para o cara um roteiro ampliando o conto, introduzindo novos personagens e aumentando o número de diálogos, para facilitar a transposição. Passado um tempo, o artista me mandou alguns esboços e tratamentos dos protagonistas.
Um bom exemplo, é a página abaixo, na qual vemos o personagem principal descendo as escadarias de um palácio real. O que no conto era descrito como:
"Já na rua, não houve necessidade de outras demonstrações tão enérgicas. Aos descontentes que o esperavam, só um sinal de cabeça já bastou; eles o seguiriam para onde quer que ele fosse, sem hesitações. Assim foi feito. Das mãos de um serviçal que o aguardava, subserviente, o guerreiro pegou a espada flamejante, responsável por tanta desgraça e destruição evocadas em nome do mestre que acabara de abandonar"
ganhou esta tradução visual (clique na figura para uma boa ampliação):
Nas próximas postagens, vou publicar a visão de André Aguiar para o casal que protagoniza a história, baseada na música "Ave, Lúcifer" dos Mutantes.
8.6.09
Especial imagens fantásticas
Bem, já está rolando mas vamos fazer um post para deixar as coisas oficiais.
Durante este mês vou dar um tempo nos contos e artigos para publicar algumas imagens de inspiração em temas fantásticos.
Charges, tiras, fotos, caricaturas, ilustrações em geral baseadas na ficção científica, fantasia ou terror vão passar por aqui.
Se alguém que estiver lendo quiser mandar alguma contribuição é só entrar em contato.
Vai ser um prazer publicar no TerrorCon.
Durante este mês vou dar um tempo nos contos e artigos para publicar algumas imagens de inspiração em temas fantásticos.
Charges, tiras, fotos, caricaturas, ilustrações em geral baseadas na ficção científica, fantasia ou terror vão passar por aqui.
Se alguém que estiver lendo quiser mandar alguma contribuição é só entrar em contato.
Vai ser um prazer publicar no TerrorCon.
Charge científica
Por Clóvis Geyer
Falei do Clóvis no post sobre o Batman e acabei descobrindo, via Twitter, um site dele que eu não conhecia, com charges, ilustrações, quadrinhos e artigos. É só clicar no nome do cara lá em cima.
Falei do Clóvis no post sobre o Batman e acabei descobrindo, via Twitter, um site dele que eu não conhecia, com charges, ilustrações, quadrinhos e artigos. É só clicar no nome do cara lá em cima.
7.6.09
Grandes Malacos
Então, ainda falando de nostalgia e de desenhos. Me deu vontade de republicar uns verbetes da Galeria dos Grandes Malacos, uma das seções de um site que fazíamos aqui, em Santa Catarina, logo após a citada revista Gárgula, do post abaixo: O Malaco. O e-zine ficava alojado no antigo HPG e foi tirado do ar, mas acho que ainda temos os arquivos guardados em algum lugar. Mais tarde, quando voltamos à net com um outro projeto, a mesma seção foi integrada ao Marca Diabo, este sim ainda disponível na rede.
Basicamente, a Galeria era um depositário de figuras que admirávamos de todos os campos de atuação, cinema, música, quadrinhos e afins. Vou republicar neste post dois dos verbetes que escrevi e que foram ilustrados pelo Ivan Jerônimo.
DICK, Philip K. - Se a intenção de Hollywood com Uma Mente Brilhante era contar a história de um criador genial envolvido em um mundo de paranóia e maluquice, a platéia teria muito a ganhar se o matemático mala John Nash fosse substituído pelo escritor Philip Kindred Dick (1928-82). Ganharia muito mais ainda se não houvesse os famosos cortes melosos (como aqueles que tornaram o giletão do Nash em um marido fiel e salvo da tal paranóia pelo amor incondicional de sua esposa...) e focasse a vida regada a anfetaminas, um pouco de LSD e a meia dúzia de casamentos malsucedidos de Dick. Se não levou um Nobel, o escritor recebeu o prêmio máximo da categoria a que se dedicou por um quarto de século, a literatura sci-fi. O Homem do Castelo Alto, escrito há meio século, foi laureado com o Hugo Awards por sua versão alternativa da II Guerra, com os EUA dominados por alemães e japoneses.
Essa obra, aliás, é um bom exemplo dos métodos exóticos empregados por Dick. O livro foi feito com a ajuda do I-Ching (aquele texto chinês que mistura filosofia e adivinhação). Nas centenas de escritos do cara, sua marca registrada sempre foi um mundo caótico e uma profunda desesperança. Caso do mais famoso deles, Do Androids Dream of Electric Sheep?, de 68, que inspirou o filme Blade Runner, e também do conto de 31 páginas que inspirou o mais recente Minority Report. Aquele improvável filme sobre a vida desse autor nada ortodoxo não poderia deixar de falar da sua fase mais pirotécnica, quando ele se dizia sintonizado com uma divindade alien (ou algo que o valha) chamada VALIS (Vast Active Living Inteligence System) ou sobre as mensagens piradas que ele extraia de músicas dos Beatles, ou, melhor ainda, das notícias que ele ouvia (vindas de um rádio desligado) de uma certa Associação dos Países Portugueses da América... Tudo isso somado faria as viagens daquele matemático sobre a CIA e o FBI parecerem coisa de guri pequeno.
SCORSESE, Martin - Hollywood só não pode ser considerada o mais superestimado latifúndio improdutivo do planeta porque diretores do gabarito de Martin Scorsese surgiram nos anos 70 para espantar o puritanismo reinante. Enquanto o mundo enlouquecia na década de 60 e o clima era coerentemente captado pela música, pelos quadrinhos, pela literatura e até pelas artes plásticas, tudo o que o cinema americano tinha para oferecer eram contos de fadas com final feliz.
Foi a geração de Scorsese que impediu a repetição da história nos dez anos seguintes, e o impacto que tais pessoas provocaram fez valer a fama de "Década dos Diretores". Isso até a poeira baixar nos últimos tempos, fazendo todo o poder voltar às mãos dos produtores e sua sanha de tirar dinheiro de nossos bolsos a todo custo. De todos os seus companheiros de empreitada, mais notadamente, Francis Ford Coppola, George Lucas e Steven Spielberg, Scorsese é o que tem a obra mais consistente, ao mesmo tempo sem os altos e baixos ou os apegos comercias tão marcantes nas carreiras dos demais. Além disso, o diretor de obras-primas como Taxi Driver, Touro Indomável, Cabo do Medo, Os Bons Companheiros, entre vários outros, é o mais malaco de sua geração, o que torna sua presença nesta lista obrigatória.
O que poderia ter sido um talento desperdiçado caso seguisse o desejo de virar padre, felizmente foi em outra direção, fortemente inspirada pelos muitos amigos de infância que acabaram virando gangsters. Uma prova da citada malaquice é dada pelo jornalista Peter Biskind, no livro Easy Riders, Raging Bulls. O autor conta que no lançamento do documentário The Last Waltz, no Festival de Cannes, Scorsese se mostraria irredutível ao ver que seu suprimento pessoal de cocaína havia acabado. O diretor decretou para quem quisesse ouvir: "Sem cocaína, sem entrevista". A saída dos produtores foi arrumar um avião e ir para Paris renovar o estoque do malaco.
Basicamente, a Galeria era um depositário de figuras que admirávamos de todos os campos de atuação, cinema, música, quadrinhos e afins. Vou republicar neste post dois dos verbetes que escrevi e que foram ilustrados pelo Ivan Jerônimo.
DICK, Philip K. - Se a intenção de Hollywood com Uma Mente Brilhante era contar a história de um criador genial envolvido em um mundo de paranóia e maluquice, a platéia teria muito a ganhar se o matemático mala John Nash fosse substituído pelo escritor Philip Kindred Dick (1928-82). Ganharia muito mais ainda se não houvesse os famosos cortes melosos (como aqueles que tornaram o giletão do Nash em um marido fiel e salvo da tal paranóia pelo amor incondicional de sua esposa...) e focasse a vida regada a anfetaminas, um pouco de LSD e a meia dúzia de casamentos malsucedidos de Dick. Se não levou um Nobel, o escritor recebeu o prêmio máximo da categoria a que se dedicou por um quarto de século, a literatura sci-fi. O Homem do Castelo Alto, escrito há meio século, foi laureado com o Hugo Awards por sua versão alternativa da II Guerra, com os EUA dominados por alemães e japoneses.
Essa obra, aliás, é um bom exemplo dos métodos exóticos empregados por Dick. O livro foi feito com a ajuda do I-Ching (aquele texto chinês que mistura filosofia e adivinhação). Nas centenas de escritos do cara, sua marca registrada sempre foi um mundo caótico e uma profunda desesperança. Caso do mais famoso deles, Do Androids Dream of Electric Sheep?, de 68, que inspirou o filme Blade Runner, e também do conto de 31 páginas que inspirou o mais recente Minority Report. Aquele improvável filme sobre a vida desse autor nada ortodoxo não poderia deixar de falar da sua fase mais pirotécnica, quando ele se dizia sintonizado com uma divindade alien (ou algo que o valha) chamada VALIS (Vast Active Living Inteligence System) ou sobre as mensagens piradas que ele extraia de músicas dos Beatles, ou, melhor ainda, das notícias que ele ouvia (vindas de um rádio desligado) de uma certa Associação dos Países Portugueses da América... Tudo isso somado faria as viagens daquele matemático sobre a CIA e o FBI parecerem coisa de guri pequeno.
SCORSESE, Martin - Hollywood só não pode ser considerada o mais superestimado latifúndio improdutivo do planeta porque diretores do gabarito de Martin Scorsese surgiram nos anos 70 para espantar o puritanismo reinante. Enquanto o mundo enlouquecia na década de 60 e o clima era coerentemente captado pela música, pelos quadrinhos, pela literatura e até pelas artes plásticas, tudo o que o cinema americano tinha para oferecer eram contos de fadas com final feliz.
Foi a geração de Scorsese que impediu a repetição da história nos dez anos seguintes, e o impacto que tais pessoas provocaram fez valer a fama de "Década dos Diretores". Isso até a poeira baixar nos últimos tempos, fazendo todo o poder voltar às mãos dos produtores e sua sanha de tirar dinheiro de nossos bolsos a todo custo. De todos os seus companheiros de empreitada, mais notadamente, Francis Ford Coppola, George Lucas e Steven Spielberg, Scorsese é o que tem a obra mais consistente, ao mesmo tempo sem os altos e baixos ou os apegos comercias tão marcantes nas carreiras dos demais. Além disso, o diretor de obras-primas como Taxi Driver, Touro Indomável, Cabo do Medo, Os Bons Companheiros, entre vários outros, é o mais malaco de sua geração, o que torna sua presença nesta lista obrigatória.
O que poderia ter sido um talento desperdiçado caso seguisse o desejo de virar padre, felizmente foi em outra direção, fortemente inspirada pelos muitos amigos de infância que acabaram virando gangsters. Uma prova da citada malaquice é dada pelo jornalista Peter Biskind, no livro Easy Riders, Raging Bulls. O autor conta que no lançamento do documentário The Last Waltz, no Festival de Cannes, Scorsese se mostraria irredutível ao ver que seu suprimento pessoal de cocaína havia acabado. O diretor decretou para quem quisesse ouvir: "Sem cocaína, sem entrevista". A saída dos produtores foi arrumar um avião e ir para Paris renovar o estoque do malaco.
5.6.09
Batman 60 + 10
Bateu uma sessão nostalgia quando eu percebi que este ano o alter ego de Bruce Wayne comemora 70 anos de criação. A sensação veio quando eu vi na net o belíssimo desenho que Rafael Grampá (de Mesmo Delivery) fez para o personagem e seu ajudante.
É que me lembrei que há dez anos, quando o Morcego se transformava em um sexagenário, tentou-se fazer em Florianópolis uma exposição em que artistas plásticos, chargistas e quadrinistas locais iriam dar sua versão pessoal para a criação de Bob Kane.
Como na época eu estava contribuindo para um projeto de conclusão do curso de Jornalismo da UFSC chamado Gárgula, uma publicação experimental sobre arte e cultura na qual eu fazia resenhas em quadrinhos sobre quadrinhos - uma mistura de Scott McCloud e Joe Sacco - veio a ideia: uma batgárgula seria minha contribuição para a mostra.
Então, primeiro eu fiz o traço a lápis, misturando uma daquelas estátuas que podemos ver nos prédios de Gotham com o Cavaleiro das Trevas. O resultado, que achei nas minhas papeladas ontem, foi este:
Depois, pedi para um dos editores do Gárgula, Diego Singh, para dar um trato no computador. Bem, computador é modo de dizer, já que o equipamento que ele usava então já era uma relíquia jurássica uma década atrás. Mas o cara era muito bom, e mesmo com aquela máquina de escrever elétrica e um programa de arquitetura, ele fez o seguinte com meu grafite:
Dez anos atrás. A exposição acabou não rolando, o desenho foi publicado, junto com um cartum do Clóvis Geyer, na edição de lançamento da saudosa Gárgula (naquele mesmo número, publiquei uma resenha em quadrinhos sobre a graphic novel Asilo Arkham, de Grant Morrison e Dave McKean).
Agora eis que o velho Batman é um setentão. Eita nostalgia.
É que me lembrei que há dez anos, quando o Morcego se transformava em um sexagenário, tentou-se fazer em Florianópolis uma exposição em que artistas plásticos, chargistas e quadrinistas locais iriam dar sua versão pessoal para a criação de Bob Kane.
Como na época eu estava contribuindo para um projeto de conclusão do curso de Jornalismo da UFSC chamado Gárgula, uma publicação experimental sobre arte e cultura na qual eu fazia resenhas em quadrinhos sobre quadrinhos - uma mistura de Scott McCloud e Joe Sacco - veio a ideia: uma batgárgula seria minha contribuição para a mostra.
Então, primeiro eu fiz o traço a lápis, misturando uma daquelas estátuas que podemos ver nos prédios de Gotham com o Cavaleiro das Trevas. O resultado, que achei nas minhas papeladas ontem, foi este:
Depois, pedi para um dos editores do Gárgula, Diego Singh, para dar um trato no computador. Bem, computador é modo de dizer, já que o equipamento que ele usava então já era uma relíquia jurássica uma década atrás. Mas o cara era muito bom, e mesmo com aquela máquina de escrever elétrica e um programa de arquitetura, ele fez o seguinte com meu grafite:
Dez anos atrás. A exposição acabou não rolando, o desenho foi publicado, junto com um cartum do Clóvis Geyer, na edição de lançamento da saudosa Gárgula (naquele mesmo número, publiquei uma resenha em quadrinhos sobre a graphic novel Asilo Arkham, de Grant Morrison e Dave McKean).
Agora eis que o velho Batman é um setentão. Eita nostalgia.
3.6.09
Underground Amazon
By Romeu Martins from Brazil
Translated by Ludimila Hashimoto
Percy Fawcett told me he still felt he’d die in the Amazon. If I didn’t find a way to help him, that would be the day: the young explorer would be sliced by the man hired to guide him in the forest. Torres was a slave hunter before slavery abolition in Brazil. I never trusted him, but did not expect the bastard would blow up the tunnel right after he left the cave, leaving me unarmed and isolated. Thanks to a helmet I survived the landslide.
Rocks blocked the cave mouth, leaving just a gap through which I saw the traitor threaten the boy outside. A damn time for J. Neil Gibson to come up with the idea of the expedition! The American became a millionaire when he was young and found gold in the Amazon. But he wanted more. He used money to get the English adventurer to search for new precious resources under the jungle. Now the Brazilian slaver was doing the same, using a knife instead. He was forcing the boy to tell him the location of a diamond streak.
How did I get myself into this? Luckily or not, I met Gibson two decades ago. I had just entered the Brazilian police and saved his life in Rio. My reward, twenty years later: he decided to take me on the expedition. He is a U.S. senator, influential in the court of the Brazilian Empire, so I came against my will. Everyone calls me John Steam. Not my real name: my mother delivered me in a steam train in England. I am Fawcett’s fellow citizen, but I came from a village called Wold Newton, whose only memorable event was a rock falling from the sky, 45 years before I was born.
The thought of the meteor gave me an idea. The explosion had disarmed me. Except for the underground exploration helmet, I only had a pickaxe. Not enough to break through the rocks, but I had my tricks. The engineers had added an oxygen canister to the helmet so that I could breathe in closed environments. Though it was not the case in the gallery, the accessory would be useful. I took it off my back, detached it from the hose that connected it to the mask and placed it in the hole.
Without that opening I would be in the darkness if it weren’t for the electric candle adjusted to the helmet. Thanks to the artificial glow I could lift the pick and strike the safety valve on the canister. Not enough. Just caused sparks that would have pierced my eyes, if it weren’t for the goggles. Torres had certainly heard the clap. My second blow had to be precise.
So it was: the seal was opened and the compressed oxygen released. As if it were a Chinese rocket, the canister took off. My makeshift projectile only stopped after breaking the assassin’s spine. Percy Harrison Fawcett’s omen of death in the Amazon would have to wait.
Translated by Ludimila Hashimoto
Percy Fawcett told me he still felt he’d die in the Amazon. If I didn’t find a way to help him, that would be the day: the young explorer would be sliced by the man hired to guide him in the forest. Torres was a slave hunter before slavery abolition in Brazil. I never trusted him, but did not expect the bastard would blow up the tunnel right after he left the cave, leaving me unarmed and isolated. Thanks to a helmet I survived the landslide.
Rocks blocked the cave mouth, leaving just a gap through which I saw the traitor threaten the boy outside. A damn time for J. Neil Gibson to come up with the idea of the expedition! The American became a millionaire when he was young and found gold in the Amazon. But he wanted more. He used money to get the English adventurer to search for new precious resources under the jungle. Now the Brazilian slaver was doing the same, using a knife instead. He was forcing the boy to tell him the location of a diamond streak.
How did I get myself into this? Luckily or not, I met Gibson two decades ago. I had just entered the Brazilian police and saved his life in Rio. My reward, twenty years later: he decided to take me on the expedition. He is a U.S. senator, influential in the court of the Brazilian Empire, so I came against my will. Everyone calls me John Steam. Not my real name: my mother delivered me in a steam train in England. I am Fawcett’s fellow citizen, but I came from a village called Wold Newton, whose only memorable event was a rock falling from the sky, 45 years before I was born.
The thought of the meteor gave me an idea. The explosion had disarmed me. Except for the underground exploration helmet, I only had a pickaxe. Not enough to break through the rocks, but I had my tricks. The engineers had added an oxygen canister to the helmet so that I could breathe in closed environments. Though it was not the case in the gallery, the accessory would be useful. I took it off my back, detached it from the hose that connected it to the mask and placed it in the hole.
Without that opening I would be in the darkness if it weren’t for the electric candle adjusted to the helmet. Thanks to the artificial glow I could lift the pick and strike the safety valve on the canister. Not enough. Just caused sparks that would have pierced my eyes, if it weren’t for the goggles. Torres had certainly heard the clap. My second blow had to be precise.
So it was: the seal was opened and the compressed oxygen released. As if it were a Chinese rocket, the canister took off. My makeshift projectile only stopped after breaking the assassin’s spine. Percy Harrison Fawcett’s omen of death in the Amazon would have to wait.
Um ano conspirando
No dia 29 passado foi o primeiro aniversário deste blog. Como eu estava em viagem, não pude comemorar por aqui. Mas não poderia deixar a data passar sem uma lembrança, certo?
Então, que seja a oportunidade de publicar um conto novo meu, mesmo que não seja diretamente ligado ao universo ficcional que dá nome a este blog. Na verdade, é uma chance de promover uma conexão com meu outro blog, o que utilizei para me ajudar a planejar uma noveleta steampunk - para uma coletânea ainda a ser publicada - chamada Cidade Phantástica.
O conto abaixo foi originalmente escrito para participar de uma competição promovida por Tom Banwell, um artista plástico californiano especializado em objetos inspirados em períodos vitorianos alternativos e dono deste blog. O objetivo de Banwell era escolher um texto que apresentasse uma de suas obras, um capacete de exploração subterrânea, algo inspirado em Viagem ao Centro da Terra, de Jules Verne.
Como Verne é uma das maiores influências de minha já citada noveleta, não pude resistir à tentação de enviar um conto para a competição. Ao todo, o californiano recebeu oito colaborações, vindas de cinco países: além do Brasil, foram enviados textos do Reino Unido, Cingapura, Canadá e Estados Unidos. O escolhido foi Terry Sofian de St. Louis, Missouri, com um belo texto que acaba de ser publicado no blog de Banwell.
O promotor do concurso avisa que logo vai postar os demais sete textos. Será uma oportunidade de ler a versão em inglês do conto aqui debaixo, uma tradução feita por minha querida amiga Ludimila Hashimoto (tenho uma coisa em comum com Alan Moore agora, fora a barba e o cabelo compridos: ambos tivemos a honra de termos textos retrabalhados por essa competentíssima nipo-carioca-paulistana). Meus agradecimentos a ela, a Tom Banwell e os parabéns ao Terry Sofian.
Segue uma breve lista de referências do conto "Amazônia Underground".
Percy Harrison Fawcett (1867 – 1925) foi o militar e explorador inglês que inspirou a criação de Indiana Jones e do livro Lost world, de 1912. Ele desapareceu em sua última expedição à Amazônia.
Torres é um personagem criado por Jules Verne (1828 – 1905) para o livro La Jangada - huit cents lieues sur l'Amazone, publicado em 1880, mas ambientado em 1852.
J. Neil Gibson é um personagem criado por Arthur Conan Doyle (1859 – 1930) para o conto “The problem of Thor Bridge”, de 1922, mas que se passa em 1900.
Wold Newton é o nome de uma cidade real da Inglaterra onde de fato caiu um meteoro em 1795. O acontecimento foi usado pelo escritor americano Philip José Farmer (1918 – 2009) para escrever suas biografias fictícias Tarzan alive, de 1972, e Doc Savage – His apocalyptic life, do ano seguinte.
João Fumaça é um personagem meu criado este ano em uma noveleta escrita este ano para uma antologia steampunk brasileira mas que se passa no ano de 1866, aproximadamente.
No mais, feliz aniversário para os Terroristas da Conspiração.
Então, que seja a oportunidade de publicar um conto novo meu, mesmo que não seja diretamente ligado ao universo ficcional que dá nome a este blog. Na verdade, é uma chance de promover uma conexão com meu outro blog, o que utilizei para me ajudar a planejar uma noveleta steampunk - para uma coletânea ainda a ser publicada - chamada Cidade Phantástica.
O conto abaixo foi originalmente escrito para participar de uma competição promovida por Tom Banwell, um artista plástico californiano especializado em objetos inspirados em períodos vitorianos alternativos e dono deste blog. O objetivo de Banwell era escolher um texto que apresentasse uma de suas obras, um capacete de exploração subterrânea, algo inspirado em Viagem ao Centro da Terra, de Jules Verne.
Como Verne é uma das maiores influências de minha já citada noveleta, não pude resistir à tentação de enviar um conto para a competição. Ao todo, o californiano recebeu oito colaborações, vindas de cinco países: além do Brasil, foram enviados textos do Reino Unido, Cingapura, Canadá e Estados Unidos. O escolhido foi Terry Sofian de St. Louis, Missouri, com um belo texto que acaba de ser publicado no blog de Banwell.
O promotor do concurso avisa que logo vai postar os demais sete textos. Será uma oportunidade de ler a versão em inglês do conto aqui debaixo, uma tradução feita por minha querida amiga Ludimila Hashimoto (tenho uma coisa em comum com Alan Moore agora, fora a barba e o cabelo compridos: ambos tivemos a honra de termos textos retrabalhados por essa competentíssima nipo-carioca-paulistana). Meus agradecimentos a ela, a Tom Banwell e os parabéns ao Terry Sofian.
Segue uma breve lista de referências do conto "Amazônia Underground".
Percy Harrison Fawcett (1867 – 1925) foi o militar e explorador inglês que inspirou a criação de Indiana Jones e do livro Lost world, de 1912. Ele desapareceu em sua última expedição à Amazônia.
Torres é um personagem criado por Jules Verne (1828 – 1905) para o livro La Jangada - huit cents lieues sur l'Amazone, publicado em 1880, mas ambientado em 1852.
J. Neil Gibson é um personagem criado por Arthur Conan Doyle (1859 – 1930) para o conto “The problem of Thor Bridge”, de 1922, mas que se passa em 1900.
Wold Newton é o nome de uma cidade real da Inglaterra onde de fato caiu um meteoro em 1795. O acontecimento foi usado pelo escritor americano Philip José Farmer (1918 – 2009) para escrever suas biografias fictícias Tarzan alive, de 1972, e Doc Savage – His apocalyptic life, do ano seguinte.
João Fumaça é um personagem meu criado este ano em uma noveleta escrita este ano para uma antologia steampunk brasileira mas que se passa no ano de 1866, aproximadamente.
No mais, feliz aniversário para os Terroristas da Conspiração.
Amazônia underground
Uma história do mesmo universo da noveleta Cidade Phantástica
Por Romeu Martins
Percy Harrison Fawcett me disse que sentia que ainda morreria na Amazônia. Caso eu não encontrasse um meio de ajudá-lo aquele seria o dia: o jovem explorador seria fatiado pelo homem contratado para guiá-lo naquela floresta. Torres tinha sido um caçador de negros muitos anos atrás, antes da abolição da escravatura no Brasil. Nunca confiei nele, com suas cicatrizes de cortes espalhadas pelo corpo, mas não esperava que o desgraçado fosse provocar a explosão do túnel, logo depois de deixar a caverna, me deixando desarmado e isolado. Sobrevivi porque o capacete protegeu minha cabeça do deslizamento.
As pedras barravam a passagem, deixando só uma fresta por onde eu enxergava o traidor ameaçar o garoto no lado de fora. Maldita hora em que J. Neil Gibson inventou aquela expedição! O americano ficou milionário por descobrir ouro na Amazônia quando jovem. Mas ele queria mais. Usou dinheiro para convencer o aventureiro inglês a buscar novas riquezas debaixo da mata. O ambicioso escravista brasileiro fazia o mesmo, mas usando um facão de lâmina larga, chamado machete: obrigava o rapaz a lhe contar a localização de um veio de diamantes.
Como me meti naquilo? Por sorte ou azar, conheci Gibson duas décadas atrás. Eu tinha acabado de entrar para a polícia ferroviária brasileira e salvei a vida dele no Rio de Janeiro. Minha recompensa, tantos anos depois: fez questão que eu participasse daquela empreitada. Como ele é senador nos EUA, influente junto à corte do Império do Brasil, virei voluntário contra a vontade. Todos me chamam de João Fumaça. Não é meu nome verdadeiro: minha mãe me deu à luz em um trem a vapor na Inglaterra. Sou conterrâneo de Fawcett, mas eu vim de um vilarejo chamado Wold Newton, cujo único acontecimento memorável foi uma pedra que despencou dos céus lá, 45 anos antes de meu nascimento.
Lembrar do meteorito me deu uma ideia. Como eu disse, a explosão me desarmara, tirando o capacete de exploração subterrânea, só me restava uma picareta. Ela não seria suficiente para abrir caminho pelas pedras, mas tenho meus truques. Os engenheiros que projetaram o capacete instalaram um tanque de oxigênio para eu respirar em ambientes fechados. Não era o caso daquela galeria, mesmo assim o cilindro seria útil. Eu o tirei das costas, desatei da mangueira que o prendia à máscara e o posicionei no buraco.
Sem aquela abertura eu ficaria na escuridão não fosse outra engenhosidade, a vela elétrica embutida no capacete. Graças ao brilho artificial, pude erguer a picareta e golpear a válvula de segurança do cilindro. Não foi o bastante. Provoquei faíscas que, não fossem os óculos de proteção, teriam furado meus olhos. Torres certamente ouvira o badalo. Meu segundo golpe teria que ser certeiro.
E foi: abriu o lacre e libertou o oxigênio comprimido. O assobio lembrava um furacão, como se fosse um foguete chinês, o tubo alçou voo. Meu projétil improvisado só parou depois de quebrar a coluna do assassino. Foi assim que Percy Harrison Fawcett sobreviveu à sua primeira aventura amazônica.
Por Romeu Martins
Percy Harrison Fawcett me disse que sentia que ainda morreria na Amazônia. Caso eu não encontrasse um meio de ajudá-lo aquele seria o dia: o jovem explorador seria fatiado pelo homem contratado para guiá-lo naquela floresta. Torres tinha sido um caçador de negros muitos anos atrás, antes da abolição da escravatura no Brasil. Nunca confiei nele, com suas cicatrizes de cortes espalhadas pelo corpo, mas não esperava que o desgraçado fosse provocar a explosão do túnel, logo depois de deixar a caverna, me deixando desarmado e isolado. Sobrevivi porque o capacete protegeu minha cabeça do deslizamento.
As pedras barravam a passagem, deixando só uma fresta por onde eu enxergava o traidor ameaçar o garoto no lado de fora. Maldita hora em que J. Neil Gibson inventou aquela expedição! O americano ficou milionário por descobrir ouro na Amazônia quando jovem. Mas ele queria mais. Usou dinheiro para convencer o aventureiro inglês a buscar novas riquezas debaixo da mata. O ambicioso escravista brasileiro fazia o mesmo, mas usando um facão de lâmina larga, chamado machete: obrigava o rapaz a lhe contar a localização de um veio de diamantes.
Como me meti naquilo? Por sorte ou azar, conheci Gibson duas décadas atrás. Eu tinha acabado de entrar para a polícia ferroviária brasileira e salvei a vida dele no Rio de Janeiro. Minha recompensa, tantos anos depois: fez questão que eu participasse daquela empreitada. Como ele é senador nos EUA, influente junto à corte do Império do Brasil, virei voluntário contra a vontade. Todos me chamam de João Fumaça. Não é meu nome verdadeiro: minha mãe me deu à luz em um trem a vapor na Inglaterra. Sou conterrâneo de Fawcett, mas eu vim de um vilarejo chamado Wold Newton, cujo único acontecimento memorável foi uma pedra que despencou dos céus lá, 45 anos antes de meu nascimento.
Lembrar do meteorito me deu uma ideia. Como eu disse, a explosão me desarmara, tirando o capacete de exploração subterrânea, só me restava uma picareta. Ela não seria suficiente para abrir caminho pelas pedras, mas tenho meus truques. Os engenheiros que projetaram o capacete instalaram um tanque de oxigênio para eu respirar em ambientes fechados. Não era o caso daquela galeria, mesmo assim o cilindro seria útil. Eu o tirei das costas, desatei da mangueira que o prendia à máscara e o posicionei no buraco.
Sem aquela abertura eu ficaria na escuridão não fosse outra engenhosidade, a vela elétrica embutida no capacete. Graças ao brilho artificial, pude erguer a picareta e golpear a válvula de segurança do cilindro. Não foi o bastante. Provoquei faíscas que, não fossem os óculos de proteção, teriam furado meus olhos. Torres certamente ouvira o badalo. Meu segundo golpe teria que ser certeiro.
E foi: abriu o lacre e libertou o oxigênio comprimido. O assobio lembrava um furacão, como se fosse um foguete chinês, o tubo alçou voo. Meu projétil improvisado só parou depois de quebrar a coluna do assassino. Foi assim que Percy Harrison Fawcett sobreviveu à sua primeira aventura amazônica.
Assinar:
Postagens (Atom)