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"Com os problemas de hoje em dia, acho que ela cresceria um pouco revoltada..."
confira tudo que respira conspira (Paulo Leminski)
Hansel e Gretel são um casal de gêmeos e guardam um trauma recente: passaram meses sequestrados por uma velha canibal numa casa feita de doces falsos, nas entranhas do Bosque de Sidh. Finalmente conseguem fugir do cativeiro, mutilados, e com um desejo de vingança: buscar seu pai e matá-lo. Afinal foi ele foi o responsável por abandoná-los na floresta, não?
Seguindo rastros duvidosos e informações vagas, os irmãos chegam até a metrópole Echtra, uma cidade com um enorme centro industrial, responsável pelo poderio financeiro, militar e religioso daquele lugar, movido a ferro e vapor.
Em sua jornada, eles se deparam com outras figuras, que de uma forma ou de outra lhes trazem problemas e auxílio, em diversos sentidos. Uma dessas é uma garotinha que descobre-se licantropa e supostamente matou a própria avó, tornando-se uma fugitiva em seu lar. Há um arqueiro mercenário que vem a Echtra com o intuito de matar um dragão... ou algo assim, e teme que tal besta poderá destruir qualquer coisa viva; e um felino humanóide, disposto a proteger os irmãos... Custe o que custar! Uma caipira balonista, colega de três criaturas bizarras de um circo de horrores; e uma dançarina de cabaré que também é caçadora nas horas vagas. Além de uma bela jovem anti-social, que não confia em ninguém e tem pesadelos constantes, que mal sabe, mas podem determinar o fim de tudo em que acredita.
Ao mesmo tempo os gêmeos são caçados por uma figura maligna, fruto de um amor conturbado e trágico, capaz de controlar as trevas e atravessar as sombras, em busca mais do que uma simples vingança...
Numa realidade steampunk e fantástica, Hansel & Gretel é uma série em mangá, que brinca de forma perversa com as fábulas conhecidas do grande público, trazendo tais personagens e situações para uma realidade nada bela.
Às onze horas em ponto, ouvimos pesados passos na escada, e o famoso milionário foi introduzido na sala. Assim que olhei para ele, compreendi não somente os temores e a aversão de seu administrador, mas também as pragas que tantos rivais nos negócios lhe têm amontoado sobre a cabeça. Se eu fosse escultor e desejasse idealizar um bem-sucedido homem de ação, de nervos de aço e consciência impenetrável, escolheria o Sr. Neil Gibson como modelo. A figura alta, atlética, angulosa, tinha um não sei quê de faminto e ganancioso. Um Abraham Lincoln que tivesse sido talhado para o mal, em vez de o ser para atos elevados, daria uma idéia do homem. O rosto podia ser esculpido em granito, tão duros eram os traços, anguloso, indiferente ao remorso, com sulcos profundos como marcas de muitas crises. Dois olhos cinzentos e frios, encimados por sobrancelhas eriçadas, examinaram-nos astutamente. Fez uma inclinação superficial, e, quando Holmes mencionou o meu nome, logo, com um ar soberano de quem manda e não pede, puxou uma cadeira para perto do meu companheiro e sentou-se, quase tocando-o com seus joelhos ossudos.
Em algum ponto das abóbadas do banco de Cox & Cia., na Charing Cross, há uma caixa de estanho com vários documentos. Essa caixa, bastante estragada pelas viagens e pelo uso, tem o meu nome pintado na tampa. "Dr. John H. Watson, do Antigo Exército Indiano". Os inúmeros papéis de que está atulhada são quase todos relatórios de casos ou problemas curiosos, nos quais, em várias ocasiões, o Sr. Sherlock Holmes andou envolvido. Alguns, e por sinal não os menos interessantes, foram autênticos fracassos, e como tal quase não merecem ser narrados, uma vez que não oferecem nenhuma explicação final. Um problema sem solução pode interessar ao estudioso, mas dificilmente deixará de aborrecer o leitor casual. (...) A história que se segue é extraída da minha própria experiência.
Vale lembrar ainda, que esta aventura canônica de Sherlock Holmes tem uma ressonância muito grande com um outro conto do personagem, não-oficial, que foi publicado no Brasil pela versão nacional da Isaac Asimov Magazine (a edição número 18, para ser exato). Originalmente impresso na revista Analog de janeiro de 1990, "O caso do ácido carbônico" (ou "The carbon papers"), foi escrito pelo inglês John Gribbin, e na solução daquela aventura, o detetive mais famoso do mundo utilizou um método dedutivo bastante semelhante ao empregado no caso abaixo, no qual ele investiga a morte de uma cidadã brasileira, Maria Pinto, nascida em Manaus e casada com um multimilionário americano, J. Neil Gibson.
Todos os povos da Terra ali tinham os seus representantes; todos os dialetos do Mundo se falavam ali ao mesmo tempo. Dir-se-ia a confusão das línguas, como nos tempos bíblicos da Torre de Babel. Ali, as diversas classes da sociedade americana confundiam-se numa igualdade absoluta.
Banqueiros, lavradores, marinheiros, moços de recados, plantadores de algodão, negociantes, barqueiros, magistrados, acotovelavam - se numa sem-cerimônia primitiva.
Normalmente, um texto do tipo parte do pressuposto de algum ponto de divergência entre a nossa história e a do universo ficcional em questão. Um exemplo é o livro The difference engine, de 1990, escrito a quatro mãos pelos criadores do movimento cyberpunk Willian Gibson e Bruce Sterling. Na obra, a hipótese de partida é que o cientista e matemático inglês Charles Babbage (1791-1871) teria construído uma máquina (que chegou mesmo a projetar) : o primeiro computador do mundo, baseado apenas em peças mecânicas.
Em "Cidade Phantástica" o ponto de mudança imaginado ocorre nas decisões tomadas por D. Pedro II (1825-91). Aconselhado por um consórcio de empresários, liderado por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá (1813-89), o Imperador dos Trópicos assume um governo muito mais pragmático e liberal que o de nossa realidade, costurando acordos de paz com os países vizinhos, principalmente o Paraguai, que se torna nosso maior aliado no continente, evitando a Guerra da Tríplice Aliança (1864-70). Além disso, neste mundo, a abolição da escravatura ocorreu bem antes, por volta de 1850, quando em nossa linha do tempo de fato ocorreu apenas a proibição do tráfico de negros vindos da África, graças a lei Eusébio de Queirós.
Os reflexos dessas medidas podem ser sentidos em um país muito mais industrializado que o nosso, com estradas de ferro ligando todos os extremos do território nacional. Investimentos de companhias internacionais e massas de imigrantes também foram atraídos de maneira muito mais aguda, uma vez que tanto a Europa quanto os Estados Unidos permaneceram envolvidos em conflitos armados naquele período (um exemplo é a Guerra da Secessão dos EUA, que durou de 1861 a 1865). Boa parte da ação se passa na capital do Império, São Sebastião do Rio de Janeiro, a Cidade Phantástica do título, local que se tornou a maior metrópole do continente.
Além de alterações em episódios históricos, a noveleta também conta com a participação de vários personagens de obras nacionais e estrangeiras que caíram em domínio público.
"Já na rua, não houve necessidade de outras demonstrações tão enérgicas. Aos descontentes que o esperavam, só um sinal de cabeça já bastou; eles o seguiriam para onde quer que ele fosse, sem hesitações. Assim foi feito. Das mãos de um serviçal que o aguardava, subserviente, o guerreiro pegou a espada flamejante, responsável por tanta desgraça e destruição evocadas em nome do mestre que acabara de abandonar"
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