21.6.08

O herói

Um conto para ser lido em cinco minutos
por Rafael "Lupo" Monteiro

O telefone tocou alto no escritório da ONG Sol Para Todos na cidade de Boa Vista. Quem atendeu foi Rodolfo, o estagiário. Carioca, há dois anos morava em Roraima por conta de seu pai, que era oficial do exército.

- Alô?

- Vocês têm cinco minutos para esvaziar o escritório, pois uma bomba vai explodir no prédio.

- Como é? Quem tá falando?

- Quatro minutos e cinqüenta segundos agora!

Rodolfo então largou o telefone fora do gancho e gritou:

- Galera, vamos embora que uma bomba vai explodir!

Seguiu-se então um pandemônio. A correria foi geral, e como os elevadores estavam todos desligados, as escadas lotaram. A locomoção no prédio, de quinze andares, ficou impraticável. Em meio à gritaria, Rodolfo decidiu sair pelo lado de fora. Com uma cadeira arrebentou o vidro da janela. Segurando-se pelas bordas, pulou para a janela do andar de baixo. Quase escorregou, o que lhe fez repensar sua estratégia.

Notou então que a janela do quarto andar estava aberta. Entrou no escritório, que aparentemente estava abandonado: não havia mesas ou cadeiras, apenas um armário aberto junto à parede esquerda. Dentro do armário, estava a bomba.

Desesperado, correu para a porta, mas estava trancada. Sem saber o que fazer, pegou o celular. Pensou em ligar para sua mãe e se despedir. No entanto, antes que pudesse discar os números, o aparelho começou a tocar.

- Alô?

- Olá, Rodolfo. Desculpe-nos por colocá-lo nesta situação.

- Quem está falando?

- Pode nos chamar de TC.

- O que quer de mim?

- Temos uma proposta de emprego.

- Estou pra ser explodido aqui, meu amigo. Que raios de emprego vou querer agora?

- Sabemos como desligar a bomba. Pode considerar um adiantamento de salário.

- Então me ajudem logo, caramba! Em um minuto o prédio vai pro espaço.

- É simples. Tá vendo um fio amarelo no canto esquerdo do contador?

- Sim!

- Desconecte-o do aparelho.

Rodolfo assim procedeu. O timer do relógio parou, faltavam 23 segundos.

- E agora?

- Agora procure o fio vermelho. Corte-o e a bomba estará desarmada.

Como não tinha tesoura, teve que cortar o fio com a boca.

- Agora você é um herói. Procure embaixo da bomba um pedaço de papel.

Rodolfo, com muito cuidado, levantou a bomba. Achou então o papel dobrado. Foi desdobrando, até ficar do tamanho de seus braços abertos. Nele, estava escrito “Fora homem branco de nossas terras”.

- Que diabos de mensagem é essa?

- É o que você, herói do dia, irá divulgar para todos. Garantimos sua presença em todas as tvs, em rede nacional, e até algumas internacionais. Só não se esqueça de mencionar “ameaça à soberania nacional”!

- Por que eu faria isso?

- R$ 500.000,00 anuais mais benefícios.

- E se eu recusar?

- Sabemos quem é e onde mora.

- Então não me resta muita opção...

- Sempre há opção!

- Bem, digamos que eu aceite. E aí?

- Você sabe desenhar mapas da Amazônia?

- Sei, claro.

- Então já teremos uma nova missão pra você!

8 comentários:

Alexandre Lancaster disse...

Rápido, rasteiro, eficiente e bem legal. E temos que combater essa ameaça a soberania nacional! :D

Rafael "Lupo" Monteiro disse...

Valeu, Alexandre! :-)

Romeu Martins disse...

Opa, valeu o comentário, Alexandre (tenho que ler o segundo capítulo de o Sistema Corso).

E de novo obrigado ao Lupo pelo conto e por ter capturado tão bem o espírito do TC.

Anônimo disse...

Adorei, Lupo! Bem acelerado, muito expressivo. E maldita soberania nacional! Vamos salvar a Amazônia juntos? Eu, vc, a Intempol e os TC.
Parabéns!

Romeu Martins disse...

Os TC só salvam o bolso deles...

Anônimo disse...

quando a ironia escapar aos olhos dos mais irônicos...

Rafael "Lupo" Monteiro disse...

Ludimila, eu topo salvar a Amazônia, mas depende do que eu vou ganhar com isso! :-)

(já me candidatando a membro do TC...)

Romeu Martins disse...

Ludi e a teoria da metaironia :P

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