Para me ajudar no processo de escrita daquele texto, o maior e mais complexo em termos ficcionais que já fiz, criei um blo homônimo à noveleta, o Cidade Phantástica. É de lá que extraio trechos de um dos primeiros post no qual expliquei os conceitos por trás da minha noveleta.
Normalmente, um texto do tipo parte do pressuposto de algum ponto de divergência entre a nossa história e a do universo ficcional em questão. Um exemplo é o livro The difference engine, de 1990, escrito a quatro mãos pelos criadores do movimento cyberpunk Willian Gibson e Bruce Sterling. Na obra, a hipótese de partida é que o cientista e matemático inglês Charles Babbage (1791-1871) teria construído uma máquina (que chegou mesmo a projetar) : o primeiro computador do mundo, baseado apenas em peças mecânicas.
Em "Cidade Phantástica" o ponto de mudança imaginado ocorre nas decisões tomadas por D. Pedro II (1825-91). Aconselhado por um consórcio de empresários, liderado por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá (1813-89), o Imperador dos Trópicos assume um governo muito mais pragmático e liberal que o de nossa realidade, costurando acordos de paz com os países vizinhos, principalmente o Paraguai, que se torna nosso maior aliado no continente, evitando a Guerra da Tríplice Aliança (1864-70). Além disso, neste mundo, a abolição da escravatura ocorreu bem antes, por volta de 1850, quando em nossa linha do tempo de fato ocorreu apenas a proibição do tráfico de negros vindos da África, graças a lei Eusébio de Queirós.
Os reflexos dessas medidas podem ser sentidos em um país muito mais industrializado que o nosso, com estradas de ferro ligando todos os extremos do território nacional. Investimentos de companhias internacionais e massas de imigrantes também foram atraídos de maneira muito mais aguda, uma vez que tanto a Europa quanto os Estados Unidos permaneceram envolvidos em conflitos armados naquele período (um exemplo é a Guerra da Secessão dos EUA, que durou de 1861 a 1865). Boa parte da ação se passa na capital do Império, São Sebastião do Rio de Janeiro, a Cidade Phantástica do título, local que se tornou a maior metrópole do continente.
Além de alterações em episódios históricos, a noveleta também conta com a participação de vários personagens de obras nacionais e estrangeiras que caíram em domínio público.
Retomando, para me manter fiel ao espírito das postagens deste mês aqui no TerrorCon, vou publicar aqui a parte visual dessas minhas fontes de inspiração que, assim como os livros que ilustraram, também estão em domínio público. Para começar, uma espécie imagem símbolo da minha noveleta pode ser vista aqui neste post.
Ela foi desenhada por Henri Montaut (1825-1890) para um dos livros que mais contribuíram para meu texto, De la Terre à la Lune do também francês Jules Verne (1828-1905). Publicado em 1865, o romance narra uma experiência pioneira empreendida nos Estados Unidos: a criação de um supercanhão capaz de lançar um projétil até nosso satélite natural. A ilustração retrata a usina de Golsdpring, uma das que ajudaram a produzir as invenções utilizadas naquele projeto que antecipou por décadas a primeira viagem do homem à Lua. Mas dá uma bela ideia de como seria a cidade do Rio de Janeiro se uma industrialização massiva e precoce ocorresse na segunda metade do século XIX.
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