29.9.08
Meio que abduzidos
O relato de um suposto contato imediato por Ataíde Tartari
Olha, cara, pra começo de conversa eu acho que eu não vou poder te contar tudinho do que aconteceu naquele fim de semana. Você sabe, eu não quero sujar a barra pro meu lado nem pro lado do Sucrí; principalmente pro lado do Sucrí. Te juro mesmo, cara, se o pai do Sucrí souber de tudo o coitado tá ferrado. O pai dele é tão filho da puta que às vezes até eu que não sou filho dele nem nada tenho medo.
Eu até hoje me lembro da primeira vez que o pai dele meteu medo na gente. A gente ainda era, tipo, criança nessa vez que o seu Caralho -- é lógico que o nome dele não é esse -- é que a gente sempre chama ele assim em vez de "seu Carvalho" -- eu me lembro dessa vez que o seu Caralho pegou a gente brincando com dinheiro preso num fio de pesca. A gente amarrava uma nota numa linha de náilon, tá ligado?, e deixava ela na calçada enquanto a gente ficava escondido no jardim da casa. Daí chegava um otário, via a grana, tentava pegar ela, e a gente puxava ela pra dentro do jardim. O otário sempre saía correndo atrás pensando que era o vento que tava levando ela embora. O cara só se ligava quando via a gente no jardim rindo da cara dele.
Mas nesse dia o último otário foi justamente o dono da casa, seu Caralho. Ele foi com tanta fissura atrás da grana que até bateu com a cabeça na grade do jardim...Pra que! O homem ficou tão puto que não conseguia nem falar! Primeiro ele tentou dar um esporro na gente, falando que a gente já tava ficando meio grande pra essas brincadeiras de criança; depois ele falou que a nota que a gente usou era muita grana e que a gente ainda não sabia o valor do dinheiro; essa merda toda. Aí sobrou pro coitado do Sucrí. Deu pra ver que o velho dele já tinha tomado todas, tava caidaço. A gente saiu de fininho mas depois ficou na porta ouvindo a família toda berrando; o seu Caralho, bebaço, xingando a mulher e o filho, e a mulher chamando ele de cachaceiro, te juro mesmo.
Aliás, quase todas as vezes que a gente cruza com o seu Caralho ele tá na cantina tomando uma. Quando ele vê a gente ele esconde o copo atrás da caixa registradora bem rapidinho. Há uns anos atrás, quando a gente era criança, o Sucrí falava que o pai dele só tomava água tônica. E a gente sempre respondia, "água Atômica". É claro que o Sucrí não fala mais isso hoje em dia.
Mas eu só tô te dizendo isso pra você não pensar que eu tô viajando; esse velho é foda mesmo. Teve até uma vez que ele arrebentou os patins do Sucrí com uma marreta só porque o moleque caiu e se ralou todo. Te juro mesmo.
O Sucrí é o meu melhor amigo desde que eu me lembro. A gente nem estuda no mesmo colégio nem nada mas a gente se conhece, tipo, desde que nasceu. E é só atravessar a rua que eu tô na casa dele. O que acontece toda hora; a gente tá sempre junto. Minha mãe até brinca comigo perguntando quando é que vai ser o nosso casamento. Eu não vou casar com ele, é lógico. Mas a gente fez até um pacto que, quando a gente começar a namorar sério vai ter que ser com duas amigas, ou até com duas irmãs, de modo que a gente vai estar sempre junto, sair sempre junto; essas coisas.
Um negócio que o Sucrí não gosta muito de falar é o seu nome. Ele até que gosta do apelido que tem, Sucrí. Quer dizer, o apelido dele nem é Sucrí; é Sucrilho. Isso vem de uma época que a escola dele servia um monte de tipo de merenda; o moleque podia escolher à vontade. E não é que o moleque tinha as manhas de comer sucrilhos todo santo dia! Quer dizer, pelo menos foi isso o que ele me disse pra explicar esse apelido que ele ganhou na escola dele. O nome dele de verdade é James...James Dean da Silva Carvalho. Te juro mesmo. Aquele bebaço do pai dele devia tá viajando quando batizou o coitado.
Mas esse negócio de disco voador, de ufologia, quem começou mesmo com isso fui eu. Tem um professor lá na minha escola, o Barroso, Jair Barroso, que toda hora interrompe a aula pra falar dessa coisa de objetos não identificados que capotaram um caminhão na estrada, fizeram um monte de círculos gigantes numa plantação de trigo, apagaram todas as luzes de uma cidade, e mais um monte de coisas estranhas assim. Ele até leva fotos pra mostrar pra gente e tudo o mais. O mais legal de tudo isso é que quase nunca ele dá aula; ele só fica contando essas histórias pra gente. E quando o pessoal sente que ele vai dar aula mesmo, que ele começa a aula a fim de dar aula, sempre tem alguém que levanta a mão pra perguntar alguma coisa de disco voador pra ele. É pouco engraçado!
Teve uma vez -- acho que foi uns dias antes daquele fim de semana -- que o professor Barroso entrou na classe com aquela cara que diz que ele vai falar só de Física e mais nada; o cara é professor de Física. Quando ele chega com essa cara a gente brinca e diz que ele "acabou de dar um barroso" no banheiro da escola. Dessa vez era minha vez de levantar a mão e perguntar alguma coisa sobre disco voador. Eu tinha que parecer interessado e fazer uma pergunta, tipo, pertinente. E o pior é que eu tava interessado mesmo! Aí eu levantei minha mão e disse, "Professor!" O Barroso meio que sabia que eu ia fazer uma pergunta de ufologia e falou pra mim, "Olha, Cléber, a matéria tá atrasada e a prova é daqui a duas semanas, então é melhor que sua pergunta seja sobre a matéria, senão eu não vou responder."
Parecia que o esquema todo já tava ferrado; a gente ia ter que ter uma aula de Física de qualquer jeito. Mas aí eu não podia queimar o filme com os meus colegas, eu tinha que fazer uma pergunta legal. Eu disse, "Eu não sei se a pergunta é sobre a matéria de hoje, professor, mas ela é sobre Física...eu acho." Aí ele riu e disse, "Você acha?" Eu só disse que sim com a cabeça e ele então mandou eu perguntar. Com a maior cara de pau eu perguntei se aquela autópsia do ET que tinha dado no Fantástico um domingo antes era fisicamente possível. Quer dizer, esse foi o jeito que eu arrumei de misturar os ETs e a Física numa coisa só...E não é que o cara aceitou a pergunta e passou o resto da semana falando tudo o que ele sabia sobre o incidente em Roswell, que aquela autópsia era na verdade uma representação teatral da autópsia verdadeira, e tudo o mais?
Bom, mas o que eu queria dizer mesmo sobre o Barroso é que foi ele que me introduziu nessa coisa toda. Nessa coisa de ufologia, quero dizer. E também nessa coisa que eu e o Sucrí fizemos naquele fim de semana em Campos.
Se você conhece Campos do Jordão você sabe onde fica Capivarí, aquele centrinho onde sempre tem um agito e aquelas cadeirinhas que te levam lá pra cima do morro. Eu adoro aquelas cadeirinhas. Pra te dizer a verdade eu gosto de tudo que é alto e que voa. Eu adoro subir no último andar de um prédio, me debruçar na sacada e ficar olhando pra baixo. Eu adoro isso. Te juro mesmo. Me dá uma sensação gostosa, sei lá. Nem sei se eu sou meio louco ou o quê, mas eu adoro essa sensação. Te juro que quando eu mudar da minha casa eu vou mudar pro último andar de um puta prédio bem alto e vou ficar debruçado na sacada do apartamento o dia inteiro, só olhando pra baixo e sentindo aquela sensação gostosa. Te juro que eu vou.
Naquela excursão pra Campos eu devo ter subido e descido umas dez vezes na cadeirinha só pela sensação. Já o Sucrí é meio cuzão pra essas coisas. Ele diz que não tem a mesma sensação que eu; ele tá sempre pensando que alguma coisa vai quebrar e ele vai cair. E tem um monte de gente que é medrosa assim que nem ele. Uma vez eu cheguei a conhecer um cara que não podia nem chegar perto da sacada de um apartamento. Eu já tava na sacada, tipo, meio que debruçado do jeito que eu gosto, e o cuzão ficava berrando lá da sala, "Você tá louco, moleque! Você tá louco!" Eu me mijava de rir só de olhar pra cara dele. Era pouco engraçado! Só de chegar perto da sacada o cara parecia que ia se cagar todo. Te juro mesmo.
Mas aí o Sucrí teve que subir de qualquer jeito na cadeirinha naquela tarde de sábado porque era alí, lá em cima, que aquela parte da excursão ia começar. O professor Barroso chamou aquilo de "trekking", se não me engano. Era só o professor Barroso e a professora Lúcia que tavam acompanhando a gente nessa porra de trekking. Essa Lúcia é uma grandona gostosa que dá aula de educação física pra mulherada. Ela é forte e gostosona mas também é um puta jaburú. Tem gente que diz que ela é sapato -- porque ela é assim, feia e forte, tá ligado? -- mas eu te juro que eu vi ela entrando numas com o Barroso nessa excursão. Pode até ser que ela tenha dado pro Barroso, sei lá. Toda vez que eu tô no banheiro e, você sabe, pensando em todas as gostosas que eu conheço, eu sempre fico com medo de pensar na Lúcia Jaburú. Se bem quem que eu tô louquinho pra saber o que uma mulher forte que nem aquela é capaz de fazer com um cara na cama. Já me disseram que uma mulher que nem aquela pode ser capaz até de aleijar um cara.
Mas pra te dizer a verdade eu nem sei se o Barroso é casado nem nada. Só sei que ele e a Lúcia Jaburú tavam juntinhos naquele trekking. Além deles, é claro, tava quase todo mundo da minha classe e mais um monte de gente da minha escola. O Sucrí era o penetra da excursão; eu tive que trazer ele junto pro coitado não ficar sozinho o fim de semana todo. E ele até que tava aguentando bem a porra do trekking até o fim da tarde naquele sábado quando a gente viu os discos pousando.
Tava ficando meio tarde e a gente tinha que voltar antes que escurecesse, mas o Barroso, sabe como é, ufólogo de carteirinha, não ia deixar aquilo passar batido; não ia mesmo. Parecia que tinha uma frota inteira de discos pousando; eram umas luzes que vinham de duas em duas e de cima pra baixo, fazendo, tipo, um vôo rasante antes de pousarem. Às vezes vinha uma luz sozinha e fazia a mesma coisa. Primeiro o Barroso chegou a pensar que eram luzes de faróis de carros numa estrada, ou coisa assim, porque já tava começando a escurecer e algumas nuvens podiam, tipo, funcionar como um espelho; mas aí ele viu umas luzes paradas, flutuando, indo pro lado contrário, ou indo contra outras luzes, e disse que aquilo era um "padrão inteligente" ou coisa assim. É lógico que todo mundo ficou ligado no que ele falava; era igualzinho às aulas dele.
Foi aí que o homem resolveu investigar essa coisa dos discos, esse "incidente ufológico". Mas o cara tava a fim de ir sozinho; ele pegou a máquina fotográfica dele e pediu pra Lúcia Jaburú levar todo mundo de volta pro hotel. É claro que o pessoal começou a chiar; todo mundo queria ir com ele e encarar os discos. Foi só depois de um puta bate-boca que o Barroso concordou em levar dois caras com ele, os dois que ele achava que tavam mais ligados nesse negócio de ufologia e podiam ajudar ele com a investigação. Ele escolheu o Zorêia, um orelhudo esquisitão metido a cientista, e mais eu. Tá na cara que ele se lembrou que eu sempre fazia as melhores perguntas sobre ufologia, perguntas de quem tá por dentro da coisa. Não é que eu sou um fanático que nem ele nem nada; acontece que eu já comprei um monte de revistas de ufologia que ele recomenda -- revistas que nem a Planeta -- e também já recortei essas coisas do jornal do meu pai pra mostrar pra ele; você sabe, pra fazer uma média. E ele gosta; ele gosta quando eu levo esses recortes de jornal pra ele. Ele até aproveita pra falar sobre o assunto e tudo o mais.
O Sucrí sabe a mesma coisa que eu sobre ufologia. Como a gente tá sempre junto, o moleque acaba lendo e sabendo as mesmas coisas que eu. E foi isso que eu disse pro Barroso quando eu falei que o Sucrí tinha que ir junto também. O professor nem falou nada; ele só saiu andando na direção das luzes e nós três seguimos ele. Aí, cara, a gente andou um tempão, um tempão mesmo, até que quase escureceu de vez.
Quanto mais perto a gente chegava, mais longe parecia que a porra dos discos tavam. A gente não ia chegar nunca. Quando a gente parou numa curvinha da estrada pra beber um pouco d'água, o Zorêia começou a chiar. O cuzão disse que tava cansado e que ia voltar, mas o Barroso disse que não, que ele não podia voltar sozinho porque era responsabilidade dele e tudo o mais. O problema é que o Zorêia é tão chato, ele reclama tanto, que o professor Barroso acabou concordando que todo mundo devia voltar pro hotel. Aí fodeu...
Olha, eu não vou te contar direito como aconteceu, primeiro porque naquela madruga rolou uns lances que eu não posso te contar, uns lances que não são da conta de mais ninguém além de mim e do Sucrí, e também porque eu nem me lembro de tudo. Eu só sei que eu sou meio louco. Te juro mesmo. Quando eu faço uma besteira sem pensar direito no que eu tô fazendo, eu continuo com essa besteira até o fim, sem voltar atrás. Eu até sei que eu tenho que voltar atrás e tudo o mais, mas mesmo assim eu não volto. Eu não volto mesmo, de jeito nenhum. E em vez de fazer uma besteira só eu acabo fazendo um monte delas na sequência, só pra não voltar atrás. E dessa vez eu fui longe mesmo. Eu te juro que eu não imaginava que isso ia dar tanta confusão.
Quando os soldados daquele grupo de salvamento acharam eu e o Sucrí, no dia seguinte, a gente tava todo sujo, ralado e meio que congelado. O Sucrí ainda tava com os lábios roxos de passar a madrugada naquele puta frio. Quer dizer, não tava tão frio assim, mas em Campos sempre esfria legal à noite; se a gente pára de se mexer, congela. Naquela hora que os soldados acharam a gente, a gente tava de volta na mesma estrada de onde a gente tinha sumido; quase no mesmo lugar. A primeira coisa que eles fizeram foi tirar os nossos casacos, que tavam úmidos, e enrolar a gente nos cobertores. Foi só depois que a gente chegou no quartel deles que a gente falou alguma coisa. E o pessoal todo tava lá; o professor Barroso e a Lúcia Jaburú, nossos colegas, o gerente do hotel, os médicos do quartel -- e até o Aqui Agora! Eu e o Sucrí tínhamos virado, tipo, celebridades. Agora nós éramos que nem aqueles moleques que tinham sumido na Serra do Mar uns meses antes. A diferença é que a história que a gente tinha pra contar era bem diferente da deles; bem diferente mesmo.
Em primeiro lugar, nossa história era bem curtinha. Eu e o Sucrí repetimos as mesmas palavras pra todo mundo e pras câmeras do Aqui Agora também: a gente tinha visto um caminhão fazendo a curva na estradinha e correu pra não ser atropelado, aí apareceu uma luz mais forte ainda que o farol do caminhão e a gente sentiu um tipo de dor meio gelada na nuca e apareceu na estrada de novo, só que aí já era o dia seguinte. Pra completar essa história curtinha, eu e o Sucrí tínhamos uma marca bem parecida nas nossas nucas. Era um buraquinho pequeno, um tipo dum furo. O Barroso juntou as coisas na cabeça dele, bem rapidinho, e começou a explicar pra todo mundo o que tinha acontecido com a gente. Eu e o Sucrí tínhamos sido abduzidos.
Abduzidos é, tipo, o jeito que os ufólogos chamam aqueles que foram raptados por discos pra servir de cobaia. Eu e o Sucrí tínhamos sido abduzidos. O furo na nuca era uma ligação feita com o nosso bulbo cerebral pra controlar o nosso corpo e pra colher toda a informação de nosso cérebro também -- o que não é grande coisa...Mas aí a confusão toda só cresceu: o Barroso ficou tão famoso quanto a gente; as fotos das nossas nucas apareceram em todos os jornais; tinha um monte de gente dizendo que o único jeito de descobrir tudo era hipnotizar a gente...
Mas o que eu queria te dizer mesmo, de verdade, é que agora eu acho isso tudo uma puta sacanagem. Te juro mesmo. No começo até que eu achei legal ficar famoso e tudo o mais, mas agora eu acho isso uma puta sacanagem. Eu já tive dos dois lados e eu sei como é que é; eu sei do que eu tô falando. Eu acho que ninguém nasce otário; a gente é feito de otário pelas outras pessoas. Sempre que a gente ouve uma história maluca, fantástica, absurda, a gente acaba, tipo, confiando na pessoa que tá contado a história. Na minha casa, por exemplo, todo mundo acredita quando alguém aparece na televisão dizendo que pinta quadros de pintores mortos ou escreve livros de escritores mortos. O pessoal só discute como aquilo é possível e não a veracidade do que o cara tá dizendo. A última coisa que o pessoal pensa é que o que o cara tá fazendo é nada mais nada menos que mentir. Tem até um velhinho famoso, adorado por deus e todo mundo, e pela minha mãe também, que diz que escreve livros de caras que já morreram. Você deve saber de quem eu tô falando. Eu acho que ninguém nunca disse na cara dele que ele é um puta dum mentiroso cara de pau que faz um país inteiro de otário. Se alguém pensa isso dele, não tem coragem de falar.
O que eu tô tentando te dizer é que é muito fácil inventar essas histórias, e que é muito difícil alguém não acreditar no que você tá contando, ou pelo menos não acreditar em você. A única coisa que eu e o Sucrí precisamos foi ler algumas revistas de ufologia e usar o saca-rolhas do canivete suíço que eu levei na excursão. A gente fez os furos com esse saca-rolhas. Doeu um pouquinho, mas tudo bem.
A gente não tinha planejado nada. Te juro mesmo. É que nem eu te disse: eu sou meio louco. Quando esse caminhão acendeu os faróis em cima da gente, eu de repente fiz essa besteira e puxei o Sucrí pelo braço e a gente escorregou barranco abaixo. Aí, em vez de tentar voltar, a gente fugiu, fugiu a madrugada toda, deu um tempo fazendo uma coisa que a gente de repente ficou a fim de fazer, e acabou planejando contar essa historinha besta que na verdade não conta nada; ela só serve pra deixar caras que nem o Barroso imaginando um monte de coisas...o que não deixa de ser uma puta sacanagem. É uma sacanagem igual e do velhinho que eu te falei, e igual a de um monte de gente famosa e que até ganha dinheiro com isso.
Se você quer saber a verdade, agora eu sempre acho que todo mundo tá fazendo a gente de otário o tempo todo. Se eu fiz isso com um monte de gente que eu gosto, tem um monte de gente que faz isso com a gente mesmo gostando da gente. E é uma puta sacanagem. Pelo menos eu acho isso.
Este texto foi escrito para a antologia ufológica Estranhos Contatos (organizada pelo Causo e publicada pela ed. Caioá em 1998.)
Olha, cara, pra começo de conversa eu acho que eu não vou poder te contar tudinho do que aconteceu naquele fim de semana. Você sabe, eu não quero sujar a barra pro meu lado nem pro lado do Sucrí; principalmente pro lado do Sucrí. Te juro mesmo, cara, se o pai do Sucrí souber de tudo o coitado tá ferrado. O pai dele é tão filho da puta que às vezes até eu que não sou filho dele nem nada tenho medo.
Eu até hoje me lembro da primeira vez que o pai dele meteu medo na gente. A gente ainda era, tipo, criança nessa vez que o seu Caralho -- é lógico que o nome dele não é esse -- é que a gente sempre chama ele assim em vez de "seu Carvalho" -- eu me lembro dessa vez que o seu Caralho pegou a gente brincando com dinheiro preso num fio de pesca. A gente amarrava uma nota numa linha de náilon, tá ligado?, e deixava ela na calçada enquanto a gente ficava escondido no jardim da casa. Daí chegava um otário, via a grana, tentava pegar ela, e a gente puxava ela pra dentro do jardim. O otário sempre saía correndo atrás pensando que era o vento que tava levando ela embora. O cara só se ligava quando via a gente no jardim rindo da cara dele.
Mas nesse dia o último otário foi justamente o dono da casa, seu Caralho. Ele foi com tanta fissura atrás da grana que até bateu com a cabeça na grade do jardim...Pra que! O homem ficou tão puto que não conseguia nem falar! Primeiro ele tentou dar um esporro na gente, falando que a gente já tava ficando meio grande pra essas brincadeiras de criança; depois ele falou que a nota que a gente usou era muita grana e que a gente ainda não sabia o valor do dinheiro; essa merda toda. Aí sobrou pro coitado do Sucrí. Deu pra ver que o velho dele já tinha tomado todas, tava caidaço. A gente saiu de fininho mas depois ficou na porta ouvindo a família toda berrando; o seu Caralho, bebaço, xingando a mulher e o filho, e a mulher chamando ele de cachaceiro, te juro mesmo.
Aliás, quase todas as vezes que a gente cruza com o seu Caralho ele tá na cantina tomando uma. Quando ele vê a gente ele esconde o copo atrás da caixa registradora bem rapidinho. Há uns anos atrás, quando a gente era criança, o Sucrí falava que o pai dele só tomava água tônica. E a gente sempre respondia, "água Atômica". É claro que o Sucrí não fala mais isso hoje em dia.
Mas eu só tô te dizendo isso pra você não pensar que eu tô viajando; esse velho é foda mesmo. Teve até uma vez que ele arrebentou os patins do Sucrí com uma marreta só porque o moleque caiu e se ralou todo. Te juro mesmo.
O Sucrí é o meu melhor amigo desde que eu me lembro. A gente nem estuda no mesmo colégio nem nada mas a gente se conhece, tipo, desde que nasceu. E é só atravessar a rua que eu tô na casa dele. O que acontece toda hora; a gente tá sempre junto. Minha mãe até brinca comigo perguntando quando é que vai ser o nosso casamento. Eu não vou casar com ele, é lógico. Mas a gente fez até um pacto que, quando a gente começar a namorar sério vai ter que ser com duas amigas, ou até com duas irmãs, de modo que a gente vai estar sempre junto, sair sempre junto; essas coisas.
Um negócio que o Sucrí não gosta muito de falar é o seu nome. Ele até que gosta do apelido que tem, Sucrí. Quer dizer, o apelido dele nem é Sucrí; é Sucrilho. Isso vem de uma época que a escola dele servia um monte de tipo de merenda; o moleque podia escolher à vontade. E não é que o moleque tinha as manhas de comer sucrilhos todo santo dia! Quer dizer, pelo menos foi isso o que ele me disse pra explicar esse apelido que ele ganhou na escola dele. O nome dele de verdade é James...James Dean da Silva Carvalho. Te juro mesmo. Aquele bebaço do pai dele devia tá viajando quando batizou o coitado.
Mas esse negócio de disco voador, de ufologia, quem começou mesmo com isso fui eu. Tem um professor lá na minha escola, o Barroso, Jair Barroso, que toda hora interrompe a aula pra falar dessa coisa de objetos não identificados que capotaram um caminhão na estrada, fizeram um monte de círculos gigantes numa plantação de trigo, apagaram todas as luzes de uma cidade, e mais um monte de coisas estranhas assim. Ele até leva fotos pra mostrar pra gente e tudo o mais. O mais legal de tudo isso é que quase nunca ele dá aula; ele só fica contando essas histórias pra gente. E quando o pessoal sente que ele vai dar aula mesmo, que ele começa a aula a fim de dar aula, sempre tem alguém que levanta a mão pra perguntar alguma coisa de disco voador pra ele. É pouco engraçado!
Teve uma vez -- acho que foi uns dias antes daquele fim de semana -- que o professor Barroso entrou na classe com aquela cara que diz que ele vai falar só de Física e mais nada; o cara é professor de Física. Quando ele chega com essa cara a gente brinca e diz que ele "acabou de dar um barroso" no banheiro da escola. Dessa vez era minha vez de levantar a mão e perguntar alguma coisa sobre disco voador. Eu tinha que parecer interessado e fazer uma pergunta, tipo, pertinente. E o pior é que eu tava interessado mesmo! Aí eu levantei minha mão e disse, "Professor!" O Barroso meio que sabia que eu ia fazer uma pergunta de ufologia e falou pra mim, "Olha, Cléber, a matéria tá atrasada e a prova é daqui a duas semanas, então é melhor que sua pergunta seja sobre a matéria, senão eu não vou responder."
Parecia que o esquema todo já tava ferrado; a gente ia ter que ter uma aula de Física de qualquer jeito. Mas aí eu não podia queimar o filme com os meus colegas, eu tinha que fazer uma pergunta legal. Eu disse, "Eu não sei se a pergunta é sobre a matéria de hoje, professor, mas ela é sobre Física...eu acho." Aí ele riu e disse, "Você acha?" Eu só disse que sim com a cabeça e ele então mandou eu perguntar. Com a maior cara de pau eu perguntei se aquela autópsia do ET que tinha dado no Fantástico um domingo antes era fisicamente possível. Quer dizer, esse foi o jeito que eu arrumei de misturar os ETs e a Física numa coisa só...E não é que o cara aceitou a pergunta e passou o resto da semana falando tudo o que ele sabia sobre o incidente em Roswell, que aquela autópsia era na verdade uma representação teatral da autópsia verdadeira, e tudo o mais?
Bom, mas o que eu queria dizer mesmo sobre o Barroso é que foi ele que me introduziu nessa coisa toda. Nessa coisa de ufologia, quero dizer. E também nessa coisa que eu e o Sucrí fizemos naquele fim de semana em Campos.
Se você conhece Campos do Jordão você sabe onde fica Capivarí, aquele centrinho onde sempre tem um agito e aquelas cadeirinhas que te levam lá pra cima do morro. Eu adoro aquelas cadeirinhas. Pra te dizer a verdade eu gosto de tudo que é alto e que voa. Eu adoro subir no último andar de um prédio, me debruçar na sacada e ficar olhando pra baixo. Eu adoro isso. Te juro mesmo. Me dá uma sensação gostosa, sei lá. Nem sei se eu sou meio louco ou o quê, mas eu adoro essa sensação. Te juro que quando eu mudar da minha casa eu vou mudar pro último andar de um puta prédio bem alto e vou ficar debruçado na sacada do apartamento o dia inteiro, só olhando pra baixo e sentindo aquela sensação gostosa. Te juro que eu vou.
Naquela excursão pra Campos eu devo ter subido e descido umas dez vezes na cadeirinha só pela sensação. Já o Sucrí é meio cuzão pra essas coisas. Ele diz que não tem a mesma sensação que eu; ele tá sempre pensando que alguma coisa vai quebrar e ele vai cair. E tem um monte de gente que é medrosa assim que nem ele. Uma vez eu cheguei a conhecer um cara que não podia nem chegar perto da sacada de um apartamento. Eu já tava na sacada, tipo, meio que debruçado do jeito que eu gosto, e o cuzão ficava berrando lá da sala, "Você tá louco, moleque! Você tá louco!" Eu me mijava de rir só de olhar pra cara dele. Era pouco engraçado! Só de chegar perto da sacada o cara parecia que ia se cagar todo. Te juro mesmo.
Mas aí o Sucrí teve que subir de qualquer jeito na cadeirinha naquela tarde de sábado porque era alí, lá em cima, que aquela parte da excursão ia começar. O professor Barroso chamou aquilo de "trekking", se não me engano. Era só o professor Barroso e a professora Lúcia que tavam acompanhando a gente nessa porra de trekking. Essa Lúcia é uma grandona gostosa que dá aula de educação física pra mulherada. Ela é forte e gostosona mas também é um puta jaburú. Tem gente que diz que ela é sapato -- porque ela é assim, feia e forte, tá ligado? -- mas eu te juro que eu vi ela entrando numas com o Barroso nessa excursão. Pode até ser que ela tenha dado pro Barroso, sei lá. Toda vez que eu tô no banheiro e, você sabe, pensando em todas as gostosas que eu conheço, eu sempre fico com medo de pensar na Lúcia Jaburú. Se bem quem que eu tô louquinho pra saber o que uma mulher forte que nem aquela é capaz de fazer com um cara na cama. Já me disseram que uma mulher que nem aquela pode ser capaz até de aleijar um cara.
Mas pra te dizer a verdade eu nem sei se o Barroso é casado nem nada. Só sei que ele e a Lúcia Jaburú tavam juntinhos naquele trekking. Além deles, é claro, tava quase todo mundo da minha classe e mais um monte de gente da minha escola. O Sucrí era o penetra da excursão; eu tive que trazer ele junto pro coitado não ficar sozinho o fim de semana todo. E ele até que tava aguentando bem a porra do trekking até o fim da tarde naquele sábado quando a gente viu os discos pousando.
Tava ficando meio tarde e a gente tinha que voltar antes que escurecesse, mas o Barroso, sabe como é, ufólogo de carteirinha, não ia deixar aquilo passar batido; não ia mesmo. Parecia que tinha uma frota inteira de discos pousando; eram umas luzes que vinham de duas em duas e de cima pra baixo, fazendo, tipo, um vôo rasante antes de pousarem. Às vezes vinha uma luz sozinha e fazia a mesma coisa. Primeiro o Barroso chegou a pensar que eram luzes de faróis de carros numa estrada, ou coisa assim, porque já tava começando a escurecer e algumas nuvens podiam, tipo, funcionar como um espelho; mas aí ele viu umas luzes paradas, flutuando, indo pro lado contrário, ou indo contra outras luzes, e disse que aquilo era um "padrão inteligente" ou coisa assim. É lógico que todo mundo ficou ligado no que ele falava; era igualzinho às aulas dele.
Foi aí que o homem resolveu investigar essa coisa dos discos, esse "incidente ufológico". Mas o cara tava a fim de ir sozinho; ele pegou a máquina fotográfica dele e pediu pra Lúcia Jaburú levar todo mundo de volta pro hotel. É claro que o pessoal começou a chiar; todo mundo queria ir com ele e encarar os discos. Foi só depois de um puta bate-boca que o Barroso concordou em levar dois caras com ele, os dois que ele achava que tavam mais ligados nesse negócio de ufologia e podiam ajudar ele com a investigação. Ele escolheu o Zorêia, um orelhudo esquisitão metido a cientista, e mais eu. Tá na cara que ele se lembrou que eu sempre fazia as melhores perguntas sobre ufologia, perguntas de quem tá por dentro da coisa. Não é que eu sou um fanático que nem ele nem nada; acontece que eu já comprei um monte de revistas de ufologia que ele recomenda -- revistas que nem a Planeta -- e também já recortei essas coisas do jornal do meu pai pra mostrar pra ele; você sabe, pra fazer uma média. E ele gosta; ele gosta quando eu levo esses recortes de jornal pra ele. Ele até aproveita pra falar sobre o assunto e tudo o mais.
O Sucrí sabe a mesma coisa que eu sobre ufologia. Como a gente tá sempre junto, o moleque acaba lendo e sabendo as mesmas coisas que eu. E foi isso que eu disse pro Barroso quando eu falei que o Sucrí tinha que ir junto também. O professor nem falou nada; ele só saiu andando na direção das luzes e nós três seguimos ele. Aí, cara, a gente andou um tempão, um tempão mesmo, até que quase escureceu de vez.
Quanto mais perto a gente chegava, mais longe parecia que a porra dos discos tavam. A gente não ia chegar nunca. Quando a gente parou numa curvinha da estrada pra beber um pouco d'água, o Zorêia começou a chiar. O cuzão disse que tava cansado e que ia voltar, mas o Barroso disse que não, que ele não podia voltar sozinho porque era responsabilidade dele e tudo o mais. O problema é que o Zorêia é tão chato, ele reclama tanto, que o professor Barroso acabou concordando que todo mundo devia voltar pro hotel. Aí fodeu...
Olha, eu não vou te contar direito como aconteceu, primeiro porque naquela madruga rolou uns lances que eu não posso te contar, uns lances que não são da conta de mais ninguém além de mim e do Sucrí, e também porque eu nem me lembro de tudo. Eu só sei que eu sou meio louco. Te juro mesmo. Quando eu faço uma besteira sem pensar direito no que eu tô fazendo, eu continuo com essa besteira até o fim, sem voltar atrás. Eu até sei que eu tenho que voltar atrás e tudo o mais, mas mesmo assim eu não volto. Eu não volto mesmo, de jeito nenhum. E em vez de fazer uma besteira só eu acabo fazendo um monte delas na sequência, só pra não voltar atrás. E dessa vez eu fui longe mesmo. Eu te juro que eu não imaginava que isso ia dar tanta confusão.
Quando os soldados daquele grupo de salvamento acharam eu e o Sucrí, no dia seguinte, a gente tava todo sujo, ralado e meio que congelado. O Sucrí ainda tava com os lábios roxos de passar a madrugada naquele puta frio. Quer dizer, não tava tão frio assim, mas em Campos sempre esfria legal à noite; se a gente pára de se mexer, congela. Naquela hora que os soldados acharam a gente, a gente tava de volta na mesma estrada de onde a gente tinha sumido; quase no mesmo lugar. A primeira coisa que eles fizeram foi tirar os nossos casacos, que tavam úmidos, e enrolar a gente nos cobertores. Foi só depois que a gente chegou no quartel deles que a gente falou alguma coisa. E o pessoal todo tava lá; o professor Barroso e a Lúcia Jaburú, nossos colegas, o gerente do hotel, os médicos do quartel -- e até o Aqui Agora! Eu e o Sucrí tínhamos virado, tipo, celebridades. Agora nós éramos que nem aqueles moleques que tinham sumido na Serra do Mar uns meses antes. A diferença é que a história que a gente tinha pra contar era bem diferente da deles; bem diferente mesmo.
Em primeiro lugar, nossa história era bem curtinha. Eu e o Sucrí repetimos as mesmas palavras pra todo mundo e pras câmeras do Aqui Agora também: a gente tinha visto um caminhão fazendo a curva na estradinha e correu pra não ser atropelado, aí apareceu uma luz mais forte ainda que o farol do caminhão e a gente sentiu um tipo de dor meio gelada na nuca e apareceu na estrada de novo, só que aí já era o dia seguinte. Pra completar essa história curtinha, eu e o Sucrí tínhamos uma marca bem parecida nas nossas nucas. Era um buraquinho pequeno, um tipo dum furo. O Barroso juntou as coisas na cabeça dele, bem rapidinho, e começou a explicar pra todo mundo o que tinha acontecido com a gente. Eu e o Sucrí tínhamos sido abduzidos.
Abduzidos é, tipo, o jeito que os ufólogos chamam aqueles que foram raptados por discos pra servir de cobaia. Eu e o Sucrí tínhamos sido abduzidos. O furo na nuca era uma ligação feita com o nosso bulbo cerebral pra controlar o nosso corpo e pra colher toda a informação de nosso cérebro também -- o que não é grande coisa...Mas aí a confusão toda só cresceu: o Barroso ficou tão famoso quanto a gente; as fotos das nossas nucas apareceram em todos os jornais; tinha um monte de gente dizendo que o único jeito de descobrir tudo era hipnotizar a gente...
Mas o que eu queria te dizer mesmo, de verdade, é que agora eu acho isso tudo uma puta sacanagem. Te juro mesmo. No começo até que eu achei legal ficar famoso e tudo o mais, mas agora eu acho isso uma puta sacanagem. Eu já tive dos dois lados e eu sei como é que é; eu sei do que eu tô falando. Eu acho que ninguém nasce otário; a gente é feito de otário pelas outras pessoas. Sempre que a gente ouve uma história maluca, fantástica, absurda, a gente acaba, tipo, confiando na pessoa que tá contado a história. Na minha casa, por exemplo, todo mundo acredita quando alguém aparece na televisão dizendo que pinta quadros de pintores mortos ou escreve livros de escritores mortos. O pessoal só discute como aquilo é possível e não a veracidade do que o cara tá dizendo. A última coisa que o pessoal pensa é que o que o cara tá fazendo é nada mais nada menos que mentir. Tem até um velhinho famoso, adorado por deus e todo mundo, e pela minha mãe também, que diz que escreve livros de caras que já morreram. Você deve saber de quem eu tô falando. Eu acho que ninguém nunca disse na cara dele que ele é um puta dum mentiroso cara de pau que faz um país inteiro de otário. Se alguém pensa isso dele, não tem coragem de falar.
O que eu tô tentando te dizer é que é muito fácil inventar essas histórias, e que é muito difícil alguém não acreditar no que você tá contando, ou pelo menos não acreditar em você. A única coisa que eu e o Sucrí precisamos foi ler algumas revistas de ufologia e usar o saca-rolhas do canivete suíço que eu levei na excursão. A gente fez os furos com esse saca-rolhas. Doeu um pouquinho, mas tudo bem.
A gente não tinha planejado nada. Te juro mesmo. É que nem eu te disse: eu sou meio louco. Quando esse caminhão acendeu os faróis em cima da gente, eu de repente fiz essa besteira e puxei o Sucrí pelo braço e a gente escorregou barranco abaixo. Aí, em vez de tentar voltar, a gente fugiu, fugiu a madrugada toda, deu um tempo fazendo uma coisa que a gente de repente ficou a fim de fazer, e acabou planejando contar essa historinha besta que na verdade não conta nada; ela só serve pra deixar caras que nem o Barroso imaginando um monte de coisas...o que não deixa de ser uma puta sacanagem. É uma sacanagem igual e do velhinho que eu te falei, e igual a de um monte de gente famosa e que até ganha dinheiro com isso.
Se você quer saber a verdade, agora eu sempre acho que todo mundo tá fazendo a gente de otário o tempo todo. Se eu fiz isso com um monte de gente que eu gosto, tem um monte de gente que faz isso com a gente mesmo gostando da gente. E é uma puta sacanagem. Pelo menos eu acho isso.
Este texto foi escrito para a antologia ufológica Estranhos Contatos (organizada pelo Causo e publicada pela ed. Caioá em 1998.)
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6 comentários:
hehehe este "contato" foi muito engraçado - e o discurso do garoto ficou perfeito. Muito bom mesmo, lembrou o Salinger.
parabéns ao autor e ao editor,
merrel
Verdade, MHell... Tem mesmo um tanto do -a doro, claro - Apanhador no campo de centeio no texto...
Se há uma coisa que eu odeio é não percebe estas influências, hehe.
Brincadeira, beijão merrel
Romeu, ainda anônimo, respondendo comentários de pé
Muito engraçado o jeito do garoto reexplicar o que o leitor já entendeu, e ainda jurar que é isso mesmo. Eu ri muito!
Só tive que parar no meio pra comer sucrilhos.
Delineou um ponto de vista bem claro.
Se o Cléber tivesse um posto de gasolina e adulterasse o combustível, acreditaria que todo mundo faz isso também.
Comentário docemente ácido, Lady Ludi :)
Helena e "anônimo" acertaram: essa prosa é mesmo filha do Apanhador no Campo de Centeio do J.D. Salinger. Certa vez, participando de uma oficina com outro conto em que usei esse tipo de prosa, acharam que minha influência era o Guimrães Rosa. Que nada, minhas influências são todas alienígenas! ;-)
Uma correção: o título do conto é "Meio que Abduzidos" e não este que está aí.
Desculpe, Ataíde.
Consertei o erro, mesmo com um atraso insjustificável.
E se tem outra coisa que eu odeio é esse tipo de erro.
Brigadão e abraço
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