Patounas se mostra entusiasmado quando começa a falar na mensagem desses irmãos que moram tão longe. O ufólogo nasceu em 1951 na capital da Grécia - o que torna bastante óbvio seu nome incomum e o apelido pelo qual é conhecido entre os amigos, Grego -, e veio para o Brasil, terra natal de seu pai, em 1954. Para Santa Catarina, estado onde mora com a mulher e quatro filhos, Grego veio em fevereiro de 1988, segundo ele seguindo orientações vindas lá de cima.
Sua missão, como diz, seria harmonizar as três bases extraterrestres de Florianópolis (infelizmente, ele não quis revelar ao repórter a localização de tais locais). Grego criou a Socex no dia primeiro de agosto de 1991 em uma sala na Avenida Central do Kobrassol, na cidade de São José, no mesmo lugar onde antes contava com uma loja de lingeries. Desde então, ele que também já foi gerente de banco e representante de vendas, dedica-se exclusivamente à causa da Ufologia. Mudou-se para o Pórtico no final de 1994, ocupando uma sala doada por um sócio de sua entidade.
A primeira experiência ufológica de Grego foi aos 12 anos, quando teria avistado um disco voador sobre sua casa, em São Paulo. "Eu senti um bafo, um calorão, algo me impelindo a olhar para cima". O que viu marcou o início de mais de 30 anos voltados ao estudo e divulgação de tudo que diga respeito a extraterrestres. Aquele primeiro contato é o mais simples dos cinco graus estudados pela Ufologia, o simples avistamento. O quinto, e mais complexo, segundo informa o especialista, seria o implante de um chip alienígena no cérebro de um terráqueo. O presidente da Socex garante ter passado por tal experiência em 1993 (infelizmente ele não fornece nenhuma prova física do fato, como uma radiografia ou laudo médico). "Assim como um poste leva luz até uma casa, o chip traz a mensagem da turma lá de cima até mim", compara o ateniense.
As mensagens que chegam via chip dizem respeito às transformações cósmicas que o nosso pequeno planeta irá enfrentar. Falam de uma evolução natural do estágio atual dos terráqueos, que o ufólogo chama de terceira dimensão, para uma superior, no caso a quarta. "Hoje em dia, estamos a meio caminho da quarta dimensão, algo como uma terceira dimensão e meia. E essa é a última oportunidade da geração atual avançar. Caso não se aproveite, outra oportunidade só daqui a 75 mil anos", calcula enquanto acende um cigarro ("um dos meus vícios de terceira dimensão").
Mas o que significa essa tal evolução? Grego manda um rapaz, que também está na pequena sala comercial que serve de sede para a Socex, virar uma fita cassete que toca sem parar música new age (aparentemente, gravada de um CD brinde da revista esotérica Planeta), e começa a apontar radicais mudanças no mundo como conhecemos. Para começar, a idéia de coletividade substituirá o individualismo, dispensaremos o uso do dinheiro e a paz chegará a todos os cantos da Terra, da Bósnia ao Oriente Médio. Um exemplo que costuma dar de povos extraterrenos de vida quadridimensional são os marcianos. Sim, dentro do planeta vizinho, e não na superfície, existiriam 9 bilhões de seres, parecidos conosco, vivendo em uma sociedade muito mais evoluída que a nossa e que constantemente faz contatos com os terráqueos.
Quanto ao filme divulgado no final de agosto de 1995, no qual se via pretensa autópsia em ETs capturados pelo exército americano, o ufólogo ateniense afirma ser documento autêntico. O único senão que levanta é a possibilidade dos alienígenas do filmete não serem os mesmos do famoso Caso Roswell, a queda do alegado óvni no deserto do estado americano do Novo México, em 1947, como vem sendo dito. Afinal, Grego diz conhecer notícias seguras de pelo menos mais de 20 acidentes com naves espaciais, a grande maioria nos EUA. A divulgação daquele filme como sendo dos seres do Caso Roswell poderia ser um erro de avaliação, ou, desconfia Patounas, uma tentativa de "desacreditar o movimento ufológico mundial".
Polêmicas à parte, o Caso Roswell e outros temas igualmente bombásticos, como a experiência do brasileiro Osvaldo Oliveira Pedrosa, que diz ter convivido uma semana com ETs, estão no Correio Extraterrestre, um curioso jornal tablóide editado por Patounas. Para difundir a filosofia dos alienígenas, ele até pensou em escrever um livro, mas acabou optando pelo formato do boletim mensal. "Eu precisaria de muito tempo para fazer um livro com todas as informações que recolhemos. E depois, acabo alcançando muito mais pessoas com o jornal e as palestras que dou por todo o Brasil", conta mostrando orgulhosamente a pasta com dezenas de cartas de leitores do jornal.
São bastante inusitadas as pautas que esses leitores têm acesso no tablóide da Socex. Na edição de estréia, de agosto de 1995, o editorial já fazia previsões sobre o futuro de nossa espécie: "Temos informações que dos 6 bilhões de habitantes do planeta [Terra], cerca de 10% apenas constituirão o novo homem". No mês seguinte, uma matéria explicava a origem e a missão dos portadores de síndrome de Down: "Vivem o tempo necessário para guiar seus pais na busca do encontro com sua essência, e retornam ao seu planeta de nome ALDEYAT [as maiúsculas são do original]". Mas foi no número de novembro daquele ano que, provavelmente, o jornal trouxe seu maior furo, quando um ET definiu para o já citado Osvaldo Pedrosa ninguém menos que Deus: "Uma reta isotrópica vibrando em todas as direções num ângulo de 90o, e tem a propriedade de se difundir para todo o Universo".
O Correio Extraterrestre é distribuído gratuitamente, a publicidade que circula no tablóide mal paga a tiragem de 3 mil exemplares. Para dar suas palestras, Grego cobra apenas 1 kg de alimento de cada ouvinte, para ser distribuído a campanhas contra a fome. Cada vez menos pessoas estão dispostas a pagar os R$ 10 de mensalidade à Socex. Tudo isso levou a algumas crises financeiras, com direito a luz cortada e a ficar 17 meses sem pagar o colégio dos filhos. Inevitavelmente, a família reclamou. Porém Eustáquio Patounas encara os contratempos como provação e assegura que nas horas mais difíceis sempre aparece um jeito de ganhar dinheiro, "é como ter conta num banco cósmico". Quanto à família, o entusiasmo dele é tanto que garante o apoio. Seu filho mais velho, Eduardo, de 17 anos, começou a ajudá-lo na Socex (foi o garoto quem virou a tal fita com sons de baleias e ruídos de cachoeiras).
Apesar das reclamações de falta de participação dos associados, a Sociedade de Estudos Extraterrestres está crescendo. Grego investe R$ 700 em modificações na sede, sempre seguindo um projeto determinado "pela turma lá de cima". Além de substituir as lâmpadas fluorescentes por incandescentes, para "manter a freqüência do lugar em harmonia", uma saleta próxima ao banheiro será isolada para sessões de "energização sem interferência humana". E as mudanças não param por aí, pois a Socex deve abrir filiais em quatro cidades. Há propostas de Blumenau (SC), Cascavel (PR), Ribeirão Preto (SP) e Alto Paraíso (GO).
5 comentários:
Eu já li esta entrevista em algum lugar. Pode ter sido no Marcadiabo mesmo. Ou foi outra com o mesmo grego, mas acho que não.
O cara é uma figura. O incrível é que eu conheci muitos destes tipos no tempo do rascunho da Bíblia.
Muito boa sua entrevista, deixando as conclusões para o leitor hehe
beijão,
merrel
A merrel foi mais rápida que eu!
"tempo do rascunho da Bíblia" é ótimo.
Não sei por quê, ri muito lendo esse texto. Tem um humor sutil do início ao fim, não?
Se fosse ficção seria genial (nunca conheci pessoas assim de perto), mas sendo realidade é...desconcertante?
beijos cósmicos,
ludi.
Foi muito divertido fazer este perfil, no meus tempos de pré-foca que é, mais ou menos, contemporâneo do tempo do rascunho do antigo testamento...
Pois é, as conclusões devem ser dos leitores e, sim, há um tanto de humor, não se se sutil ou irônico, no texto.
Beijões às duas irmãs.
Romeu, no anonimato
Meu, cada doido que aparece! E não acho muito evoluído não trocar lâmpada fluorescente por incandescente... hehehe
Gi, cada doido com sua mania, hehe
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