30.4.09

Romance on-line de Carlos Orsi

Uma ótima e uma má notícia para os leitores de ficção científica do Brasil. Carlos Orsi, um dos melhores escritores do gênero fantástico de nosso país, tornou disponível em versão e-book um romance voltado para o público juvenil. Nômade - Uma narrativa da grande viagem descreve o cotidiano de uma nave de geração, ou seja, uma em que a distância percorrida é tão grande que atravessa os anos, obrigando a tripulação e os passageiros a viver naquele ambiente, alguns não conhecendo outro tipo de lar ao longo da vida.

A parte ótima da notícia é que o paulistano de Jundiaí é mesmo uma referência nacional na ficção especulativa e sempre garantia de ótimas leituras. Já tive a oportunidade de resenhar um livro de contos dele, chamado Tempos de Fúria, seguramente ao lado das obras de Braulio Tavares e de Fábio Fernandes a melhor coletânea de um escritor de FC já lançada no país, e também de entrevistá-lo no meu projeto Ponto de Convergência. Com todas as credenciais, é certeza de que Nômade vai ser uma leitura indispensável (e fonte para mais uma resenha em breve).

Então qual pode ser a parte má da notícia? Ela está na motivação para que o autor tenha lançado sua obra em formato digital e não no impresso e pode ser lida no posfácio do livro, que reproduzo abaixo. Fica minha torcida pessoal pelo dia em que o mercado literário do Brasil amadureça, se profissionalize e passe a reconhecer seus escritores. Enquanto isso não acontece, temos a oportunidade de ler esta nova obra - ainda que escrita há meia década - de Carlos Orsi disponível neste endereço. Não é um castelo na França, mas...



Nota à edição free ebook – ou, por que este livro está aqui

Nômade tem uma história engraçada: o livro nasceu de uma encomenda estilo “contrato de risco” de uma importante editora do ramo de livros juvenis. Basicamente, perguntaram-me se eu topava escrever um romance para jovens sem compromisso, submeter a eles e, se gostassem, o livro saía.

Resumindo: escrevi. Submeti. Gostaram mais ou menos. Reescrevi. Gostaram pra valer. Não saiu.

Por quê? Não faço a menor idéia. O que sei é que passei a maior parte da presente década esperando que alguém na tal editora batesse o martelo, me apresentasse um contrato, fizesse alguma coisa. Depois de tanto tempo, até uma rejeição, tipo, “desculpe, mas o funcionário que deu aprovação inicial a seu livro foi diagnosticado com esquizofrenia, jamais publicaríamos um lixo desses”, teria sido bem-vinda.


Mas, bolas, para quê tratar escritores com cortesia e consideração, não é mesmo? Eles se vendem por aí, como diz o provérbio americano, por dez centavos a dúzia.


Então, o que pretendo ao lançar Nômade como um livro eletrônico grátis? Eu poderia responder dizendo que faço isso para exorcizar o fetiche do papel, que este livro representa meu grito de liberdade em relação às velhas mídias ultrapassadas que dependem de tinta e árvores mortas para subsistir.

Mas estaria mentindo.

Meu objetivo secreto, com este livro, é fazer tanto sucesso, mas tanto sucesso, que seja lá quem for o gênio que bloqueou a publicação lá naquela editora termine seus dias em desonra, opróbio e ostracismo, passando frio e fome e vendendo DVDs piratas na Praça da Sé.

Como conseguir o objetivo secreto é um pouco difícil, reconheço, meu objetivo expresso é, simplesmente, completar o parto iniciado tantos anos atrás. Cada escritor tem seu jeito, suponho, mas eu sou um maníaco da publicação: saber que tenho um texto acabado na gaveta é algo que me dói quase tanto quanto ter uma batata quente nas mãos.

Nestes quase 18 anos como escritor profissional (recebi meu primeiro cheque por uma obra de ficção em 1992) uma coisa que aprendi é que sou um péssimo vendedor: não adianta eu bancar uma tiragem e pôr a banquinha na rua, o livro vai encalhar, independentemente de seus méritos. A incapacidade psicológica de pedir dinheiro aos outros é um dos fantasmas que assombram minha vida.


Então, por que não simplesmente soltar o livro no mundo? Prece ser a solução lógica.

Outra coisa que aprendi nestes 18 anos é que os textos têm um jeito de achar seus próprios caminhos. Dia desses, dando uma busca por meus próprios títulos no Google (narcisista! narcisista!) achei o blog de uma menina que cita minha primeira coletânea de contos,
Medo, Mistério e Morte, como um de seus livros favoritos. Essa moça provavelmente nem tinha nascido quando os primeiros contos daquele livro foram escritos.

Então, aqui está Nômade. Talvez um dia ele venha a ser o livro favorito de alguém que não nasceu ainda.

Não é um castelo na França, uma vaga na Academia ou um fim de semana na Ilha de Caras, mas acho que dá para o gasto.

6 comentários:

Eric disse...

Sempre um bom trabalho de divulgação, Mr. Conspirator! :) E quer saber, o Orsi está mais que certo. As histórias acham os seus caminhos. Tô pensando em liberar um livro meu em formato e-book também. Meio de saco cheio de esperar um Q.I. aparecer na minha vida. Abss!

Ludimila Hashi disse...

É isso aí.
Já estou lendo, escrito pelo Orsi só pode ser coisa boa. Espero que saiam a resenha do Mr.Conspirator e muitas outras. Quem sabe assim as editoras despertam :)

Fabio Fernandes disse...

Tristemente, concordo com o Martinho (não consigo chamá-lo de Orsi. :-)

Por isso coloquei o Interface na Web há algum tempo - e estou pensando seriamente em fazer o mesmo com o Pequeno Dicionário de Arquétipos de Massa, projeto que durou de 1998 a 2003 e que só foi publicado em partes, em alguns sites e revistas. Outro dia descobri que a maioria do pessoal da nova geração nunca ouviu falar desse meu projeto, o que me deu uma certa sacudida. Realmente não dá pra esperar mecenas.

Vamos prestigiar, então, a iniciativa do Martinho, e torcer para que um dia os editores brasileiros vejam o que estão perdendo.

Romeu Martins disse...

É isso, povo. A conspiração depende de nós!

Giseli Ramos disse...

Preguiça de me logar para baixar o pdf rs. Mas quando é do Orsi, sei que vale a pena...
Putz, que triste a realidade da literatura aqui no Brasil =/

Carlos Orsi disse...

valeu, gente!

Espero que o prazer que a leitura deve trazer iguale a solidariedade de vocês...

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