Não é porque o filho também é meu, mas essa é uma das coletâneas mais bem organizadas da cena literária atual. São 13 contos de 13 autores bastante diversificados em temáticas e estilos, todos eles se encaixam de algum modo nas designações da literatura fantástica, mas aqui não existem fronteiras claras de gênero e vanguarda, a proposta é justamente gerar uma quebradeira de rótulos. Creio que a maioria dos contos conseguiu cumprir com a missão.
Reparei que muitos autores investiram na quebra dos paradigmas por meio da reinvenção mitológica e, em alguns casos, com o tempero do erotismo.
+ Jacques Barcia em O Vento, Seu Fôlego. O Mundo, Seu Coração operou a transfiguração da mitologia indiana em uma vertiginosa epopéia onírica.
+ Roberta Nunes em Una deu vidas passadas e ares de ficção científica à saga de Lilith. Belíssimo!
+ Já Fogo de Artifício, do Eric Novello, é um inusitado conto policial onde os bandidos são personagens de contos de fadas e a loura Alice com seu coelho inseparável não é mais uma menininha…
+ Em Aqui Há Monstros, Camila Fernandes praticamente inventa um novo mito grego, um jovem náufrago vai parar em uma ilha desconhecida onde é salvo por uma misteriosa mulher cuja beleza ele jamais pode olhar.
+ E quem disse que dragões não têm nada a ver com favela e tráfico de drogas? Essa conexão inusitadíssima é mérito do Bruno Cobbi, com O Mendigo e o Dragão.
+ Um Forte Desejo, de MD Amado, conta as aventuras sexuais de uma mulher independente com uma bizarra criatura.
+ Tem ainda uma escritora chamada Cris Lasaitis com sua alegoria moderna sobre um maestro narcisista e uma melodia mágica (Sinfonia Para Narciso).
+ Leonardo Pezzella com A Lenda do Homem de Palha praticamente inventou uma lenda popular tão pictórica quanto as que povoam o imaginário da cultura brasileira.
+ O conto da Ana Cristina Rodrigues, O Templo do Amor, traz um interessante duelo entre as duas maiores forças que norteiam a nossa existência: o amor e a morte.
+ A Teoria na Prática (excelente título) é uma grande sacada do Romeu Martins ao dar sentido e quintas intenções à cultura da pasmaceira que chamamos de teoria da conspiração. Ou você não percebeu que tem alguém interessado em fazer você acreditar que camisinha dá câncer?
+ O conto do Richard Diegues, MAI-NI Expressas é uma viagem alucinante num mundo ciber-futurista-distópico onde motoboys rompem fronteiras a mil e seiscentos quilômetros por hora para entregar o seu pacote antes que a guerra comece.
+ O Combate de Maria Helena Bandeira é um altar de sacríficios ao deus Xanam, o deus do acaso e também das roletas russas.
+ E Madalena, de Osíris Reis, é um conto de terror situado entre o grotesco e o escatológico, onde não há fronteira entre os pesadelos e a realidade para uma menina de nove anos aterrorizada e violada pelos seus monstros pessoais e pela religião. Lembra um pouco um caso que aconteceu no Pernambuco outro dia…
Acho que não deixei faltar ninguém. É isso aí, criançada, parabéns! E que venha o volume 2!
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