25.3.09

Paradigmas - o blog

Eric Novello, um de meus colegas na coletânea Paradigmas, acaba de criar uma página para apresentar a coleção e seus autores. Disponível neste endereço, o blog me deu a oportunidade de falar um pouco dos bastidores do conto que enviei para o livro. O texto é o seguinte:

O conto “A Teoria na Prática” surgiu a partir de discussões na maior comunidade em português dedicada à Ficção Científica no Orkut. Apesar de as regras daquela comunidade pedirem que se evite temas como teorias da conspiração e ufologia, volta e meia alguns membros insistem em tratar do assunto. No final de maio de 2008, comentei em tom de brincadeira que a insistência por aquele tipo de assunto poderia render um bom conto, ao tentar entender o que há por trás do interesse das pessoas nessas histórias tão desconexas. Para minha surpresa, algumas pessoas me incentivaram a escrever tal conto, o que não passava pela minha cabeça. Em mensagens no próprio fórum e por e-mail, dois de meus escritores e tradutores favoritos, Ludimila Hashimoto e Fábio Fernandes, entraram na brincadeira me instigando a escrever sobre isso.

Até então, eu era conhecido no meio da ficção científica brasileira por ter realizado uma série de resenhas e de entrevistas abordando livros do gênero lançados na última década. Publiquei a série no site Overmundo e republiquei os textos em um blog. Esse hobby era minha única ligação com a área, nunca pensei em escreve ficção, seja científica ou não. Mas com a curiosidade despertada, resolvi experimentar um texto que tratasse daquele tópico. O título do conto tem essa dupla interpretação, é uma forma de ver, na prática, como funcionaria uma teoria da conspiração; e também se refere a alguém – no caso eu – que conhece a teoria da escrita de FC mas que nunca a havia colocado em prática.

Criei um blog para publicar o conto, divulguei o endereço e, para minha legítima surpresa, ele despertou o interesse em um número bastante razoável de leitores. Mais que isso, outras pessoas me incentivaram a continuar a escrever sobre o tema. Com o tempo, fui de fato publicando outros contos sobre o universo ficcional de um grupo que se denomina Terroristas da Conspiração. Outros autores aceitaram meu convite e também mandaram textos abordando e ampliando aqueles conceitos. Até o momento, já me enviaram suas versões daquele cenário a já citada Ludimila Hashimoto, Rafael Monteiro e Alexandre Soares, o que torna este meu conto o precursor de um shared universe. Outros autores prometeram trabalhar com o tema também, entre eles Octavio Aragão criador da série Intempol, o shared universe mais conhecido e bem-sucedido do país (não à toa, eu prestei uma homenagem a ele no segundo conto dos Terroristas da Conspiração, chamado “Apagão no Tempo”, uma espécie de crossover com a Intempol).

Com o tempo, além de contos sobre o grupo que dá nome ao blog, publiquei por lá material de vários outros escritores de literatura fantástica nacionais. No final de novembro de 2008, alcançamos a marca de 50 textos, entre inéditos e já conhecidos, de 23 autores diferentes de toda parte do país. Alguns deles, presentes em Paradigmas – Volume 1: Ana Cristina Rodrigues, Camila Fernandes, Cristina Lasaitis, Maria Helena Bandeira e Richard Diegues.

Falando especificamente sobre o conto que participa de Paradigmas, creio que podemos classificá-lo como representante nacional de um subgênero bem recente da FC, considerado por alguns como movimento, chamado mundane Science Fiction que também se organiza em um blog. O termo foi proposto pelo escritor canadense de ficção científica, fantasia e slipstream Geoff Ryman em uma espécie de manifesto em 2002. Basicamente, os mundanos aprofundam temas da chamada ficção científica hard se mostrando tão céticos com os avanços científico-tecnológicos que beiram o cinismo. Eles evitam em seus textos temas que consideram mais próximos da fantasia que da FC, como viagens interestelares, naves mais velozes que a luz, universos paralelos, vida alienígena – principalmente a dotada de inteligência – e deslocamentos no tempo. Não concordo com todos os pressupostos do movimento, mas o ceticismo pragmático deles me interessa bastante, talvez até por desvio profissional. Sou jornalista e me especializei na área de divulgação científica, com ênfase em inovação tecnológica (tenho um livro publicado em co-autoria com o pesquisador Roberto Pacheco, chamado Conhecimento & Riqueza), o que me torna, na maioria das vezes, cético quanto a avanços radicais em um futuro próximo.

O convite para publicar “A Teoria na Prática” em Paradigmas foi uma das surpresas que a série sobre os Terroristas da Conspiração tem me dado. Outros projetos que surgiram de modo espontâneo também estão ampliando o interesse por estes contos e os levando a outras mídias. No momento, existem pessoas adaptando alguns dos contos para o formato de radionovela e para os quadrinhos. Como tudo começou de forma descompromissada como uma piada em um fórum da Internet, não poderia ser mais recompensador testemunhar os caminhos que essa conspiração está me levando.

5 comentários:

Anônimo disse...

Meu nome é Afonso L. Pereira, sou o administrador do site "Contos Fantásticos". Romeu, como é complicado contactar o seu e-mail, gostaria de saber se você me autoriza a publicar em meu site o artigo "A nossa imagem e semelhança".

Por favor, caso você me autorize, você me dar resposta no e-mail:

contosfa@contosfantasticos.com.br

Anônimo disse...

Já tá autorizado, Afonso. Aviso pelo teu email também.


abraço

Helena disse...

Adorei ver como tudo começou no Terrorcom hehe
E foi com tudo, Romeu. Ótimo participar do Paradigmas com você.

beijão,

merrel

Romeu Martins disse...

Digo o mesmo, MHell. Gostei muito de seu conto e da mitologia que você criou nele.

Anônimo disse...

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