7.9.09

Continuum

Amor em ritmo de looping temporal
Por Mariana Gouvin



Fogos de artifício estouram no céu e eu continuo a beijá-la. Nosso ritmo suado, nossos corpos doloridos, meus olhos embaçados, seus cabelos na minha boca, quem realmente importa?

_ Quanto tempo nós temos?_ você ofega nervosa.

Calo sua boca com um beijo. Mordo seu lábio inferior com força, meus dedos quadrados se arrastam pelas suas costas, você arqueia o corpo como quem cede e exige ao mesmo tempo.

Escorro minha boca pelo seu colo. Lá fora as luzes azuis se sobrepõem à escuridão. Você geme alto. Ninguém escuta. Mordisco seus seios, gravo mentalmente cada pedaço deles com a língua, descubro cada dobra, meço cada poro arrepiado de prazer, me perco milhares de vezes nos caminhos que eles me mostram.

Levanto depressa, pego o que nos resta da garrafa de vinho. Você me puxa com desespero.

_ Amo você.

Seguro seus quadris enquanto estrangulada você continua me dizendo declarações. Evito falar, não quero me lembrar do som da minha voz, quero só a sua, quero que você me preencha, que ocupe cada espaço da minha memória, cada fragmento de alma que possa existir em mim. Mordo seu queixo enquanto você crava suas unhas nas minhas nádegas. Gritos. Pneus cantando. Eles estão vindo.

_ Queria que tivéssemos tido filhos.

Seus olhos molhados. Nariz vermelho. Cara de choro. Te beijo com mais força, as lágrimas escorrendo pelo meu peito, suspiros entrecortados, movimentos fortes. Te levanto e te coloco contra o armário. Seguro suas coxas, aperto com força, marco a fogo meus dedos nela. Tento gravá-las em mim também. Cada pedaço, cada espaço. Quero viver eternamente aqui. Peço por um looping temporal.

Você agora chora abertamente, mas não me solta, pelo contrário, me aperta mais, me coloca colado ao seu corpo, como se quisesse que fôssemos um. As janelas quebram. Assobiando o vento frio que invade nosso quarto não refresca, oprime.

Ouço os vizinhos abaixo gritarem. Perto demais. Pouco tempo. Sinto você me apertando por todos os lados. Mãos, boca, coxa, tudo que é seu me aperta, me prende.

Vou mais rápido. Você chora, imersa na mistura louca de prazer e desespero, pede por mim, implora pela minha voz. Foco meus olhos nos seus e enquanto os passos soam no corredor ofego no seu ouvido:

_ Amo você… para sempre.

Eles arrombam a porta enquanto você puxa meus cabelos. Sinto que travam por um minuto, como se não esperassem ver o que viam como se necessitassem de pessoas desesperadas para continuar. Você me beijava, eu te segurava forte enquanto repetia:

_Amo você… amo você… amo você.

Não paramos nem quando caídos, nem quando molhados de um líquido que em nada se parecia com o suor. “Um looping temporal” era tudo que eu pedia e naquele momento aquilo me parecia tão pouco diante do que tínhamos sido. Pouco sim. Mas eu me contentava.

Fogos de artifícios estouram no céu e eu continuo a beijá-la.

8 comentários:

Unknown disse...

Caralho! Desesperadamente foda!

Romeu Martins disse...

Massa que tenha gostado, Lidia!

Gostaria muito de um cyberconto teu, também.

Ludimila Hashi disse...

Mariana, gosto muito do ritmo rápido e apaixonado dos seus textos, e de alguns detalhes poéticos. Você escreve muito bem!
Beijo!

Romeu Martins disse...

Sempre legal ter comentários teus, Ludi!

Brigadão, volte sempre :-)

jGp disse...

Putz,
que pegada tem a Mariana/Belly !!! Excelente ritmo, tesão, paixão e um ritmo vertiginoso... Essa menina escreve como um autor de romances policiais com o dobro da idade dela.
Parabéns pra você tambem Romeu, por promover a volta dela.

Romeu Martins disse...

O prazer é todo meu, Jorge. E quero muito ver essa menina impressa logo.

Faço votos!

Belly disse...

Gente obrigada.
Muito obrigada mesmo. Fico muito feliz que gostaram do meu texto. Assim vou animando e mandando mais..
Um agradecimento especial ao Romeu pela chance.

Romeu Martins disse...

Mande mais, mande mais...

Eu quem agradeço, Belly!

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