Meu caro Afonso Luiz Pereira edita um site de inestimável qualidade chamado
Contos Fantásticos. Naquele espaço ele não apenas reúne um acervo de contos diversos, como também artigos e entrevistas com escritores dedicados à literatura de gênero nacional. Ele decidiu começar o mês de março me entrevistando, ora vejam. Nada menos que minha primeira entrevista sobre ficção científica, pela qual sou muito grato ao entrevistador pelo espaço e pelas palavras generosas no comentário. Foi a oportunidade também para eu falar um pouco sobre os motivos para a baixa frequência das atualizações deste blog. Mas quem sabe não seja o incentivo para voltar a repensar um pouco o TerrorCon? Afinal, fazendo as contas para informar o entrevistador, me dei conto de que publiquei aqui 78 contos, e eu detesto números quebrados :-)
Abaixo vão alguns dos trechos sobre este tema, a íntegra você pode ler
aqui.
Costumo fazer na Internet uma rápida pesquisa sobre o meu entrevistado, pra não correr o risco de falar bobagem. Os blogues que você administra, TERRORISTAS DA CONSPIRAÇÃO e CIDADE PHANTÁSTICA, foram curiosamente criados para sustentar dois contos que iriam ganhar páginas impressas em antologias. Do CIDADE PHANTÁSTICA, já sabemos que o assunto principal é o steampunk... e o TERRORISTAS DA CONSPIRAÇÃO? O que você pode nos falar sobre ele? Por que ele está, atualmente, abandonado? Desistiu dele? Desencantou? Pretende retomá-lo?
O Terroristas da Conspiração foi criado a partir de uma brincadeira, de uma expressão que não entendi à primeira leitura. Novamente vamos ao orkut: em debate em uma comunidade, um participante utilizou o termo “teoristas da conspiração” no lugar do bem mais conhecido “teóricos da conspiração”. Quando notei aquilo, brinquei dizendo que tinha lido terroristas e comentei que daria um bom conto a ideia. Para minha surpresa fui incentivado de imediato, por mensagens no fórum e por email, a escrever mesmo algo assim. Estávamos na segunda metade de 2008, eu nunca havia me aventurado a escrever ficção.
Aquele comentário ficou em minha cabeça e poucos dias depois escrevi de uma braçada só uma narrativa curta usando aquele mote, de terroristas, não de teóricos ou teoristas, produzindo uma conspiração. Misturei elementos de contos do Cory Doctorow e de quadrinhos de Warren Ellis e Grant Morrison para imaginar um grupo do tipo. Dei o nome de “A teoria na prática” para o conto com o duplo sentido de, primeiro, ver como funcionaria na prática uma teoria da conspiração; segundo, como seria um sujeito que conhece a teoria da escrita de ficção a exercendo pela primeira vez na prática.
Criei o blog Terroristas da Conspiração para hospedar o tal conto, anunciei naquela mesma comunidade e, para minha surpresa, o texto agradou tanto a quem entende, estuda e produz FC quanto a pessoas que não tinham o hábito de ler o gênero. Achei isso muito interessante, pois, para mim, o gênero só vai conseguir de fato superar a tal invisibilidade se atrair interesse desses dois lados da fronteira. Passei as semanas seguintes escrevendo mais contos, dentro daquele mesmo universo, fazendo algumas experimentações com narrativas; deixei o convite para quem quisesse produzir suas próprias desventuras usando aquele grupo, logo surgiram escritores dispostos a tanto, me mandando suas versões para o universo dos terroristas da conspiração.
Logo me veio a vontade de expandir aquilo, como eu havia feito com o projeto Ponto de Convergência, para ser uma tentativa de dar visibilidade ao gênero. Comecei a publicar contos de vários escritores, de toda parte do país, mesmo que não tivessem nada a ver com a temática daquele conto precursor. Resgatei textos excelentes que estavam fora da rede, publiquei material inédito, enfim, reuni um catálogo ótimo do que é a produção nacional de literatura fantástica, com ênfase na FC.
De fato, aquele blog anda bem parado. Os motivos foram apontados nas respostas anteriores. Tem a ver com a minha falta de tempo atual, com o trabalho em C& T, assim como com a atenção que passei a dar ao blog steampunk e também com o atual momento de efervescência da FC nacional, com tantas obras sendo produzidas, na maioria das vezes, coletâneas de contos. Dei uma pausa porque é um bom momento para autores buscarem a publicação em papel, com editoras sérias que surgiram recentemente, como a Tarja, a Draco, a Terracota, enfim. Não gostaria de ver alguém prejudicado por ser barrado em alguma antologia porque publicou antes um conto no meu blog e a editora exige ineditismo, por exemplo. Se for o caso, em algum momento no futuro, quando eu tiver menos atolado de serviço, quando achar que o momento voltou a ser interessante para publicações on line, poderemos ver o blog voltar a ser atualizado.
Quando digo que você é bem relacionado no jet set da nova leva de autores de FC, eu não estou te bajulando gratuitamente. Você conseguiu, no TERRORISTAS DA CONSPIRAÇÃO, uma façanha rara: agregar gente talentosa que contribuiu com 50 contos de Ficção Científica, sem que para isso tivesse que acenar algum tipo de premiação. Conte-nos um pouco os detalhes desta proeza?
Olhe, a marca dos 50 contos, na verdade, foi atingida em novembro de 2008, quando dei a primeira parada no blog – e logo em seguida me veio o convite para escrever a noveleta steampunk e poucos meses depois, já em 2009, publiquei aquele conto inaugural na coletânea Paradigmas 1, da Tarja. Fui lá contar para ter certeza e, desde então, publiquei mais 28 contos no blog, ou seja, neste momento, são ao todo 78 contos de mais de 30 autores diferentes reunidos no Terroristas da Conspiração.
Posso dizer que conseguir a autorização para publicar os contos, alguns inéditos, outros publicados de forma virtual pela primeira vez, foi a parte mais prazerosa da empreitada e não foi difícil. Contei com a generosidade e o apoio realmente entusiástico de pessoas talentosas para isso. Como você ressaltou, sem acenar com nenhum prêmio, apenas pelo barato de construirmos juntos um projeto bacana que deu um belo espírito de união ao grupo. E que ajudou a dar visibilidade a vários trabalhos que, na verdade, mereciam ainda mais. Acho que houve apenas um caso de autor que não me deu resposta à solicitação para eu usar o seu conto, no mais, na esmagadora maioria a aceitação prontamente para que eu os publicasse. Em boa parte, senti um entusiasmo franco e houve ainda os que aceitaram contribuir com o universo ficcional dos Terroristas da Conspiração, outros que fizeram ilustrações especialmente para o blog... Enfim, nomear todo mundo seria a certeza de deixar alguém injustamente de fora.
Agora, dava trabalho escolher os melhores contos, buscar a autorização, tentar fazer a melhor chamada, encontrar uma imagem que casasse com o texto... Tudo isso sozinho, por mais de um ano, às vezes com o computador ou com a conexão empesteada. Olha, essa parte não foi exatamente fácil, e ela exige mais atenção, para garantir a qualidade geral, do que a que disponho agora para dar. Mas foi um projeto ótimo, do qual tenho tanto ou mais orgulho quanto o Ponto de Convergência.