3.6.10

Terroristas têm uma nova base

 Vour reproduzir aqui uma nota que escrevi em meu blog steampunk que tem a ver com os personagens que dão nome a este espaço.

Havia relembrado no post anterior a última matéria que publiquei por aqui em 2009. Volto a fazer isso, para tocar em outro assunto:



Para início de conversa, 2010 deve ver a consolidação do projeto mais ambicioso do grupo que foi fundamental para a realidade que o steampunk assumiu em nosso país. Da mesma forma que eles deram o pontapé inicial neste nicho que se tornou tão importante para a FC nacional, agora é a oportunidade de vermos acontecer o mesmo com o gênero como um todo. A novidade foi anunciada em primeira mão na entrevista que um dos fundadores do Conselho Steampunk , Bruno Accioly, me concedeu em nome do Overmundo e que reproduzi também neste blog:



Tenho conhecido muita gente interessante e importante no meio, o que me fez perceber que o Conselho SteamPunk pode retribuir o carinho da comunidade de produção literária de Ficção Científica através das ferramentas que vem desenvolvendo para promoção do sub-gênero que tanto estimamos.
A nova iniciativa do Conselho SteamPunk, como resultado, não será endereçada a entusiastas de nicho, mas a toda comunidade de escritores e leitores de literatura fantástica.
O que ninguém ouviu até agora é o nome desta iniciativa, que foi batizada por nós de: aoLimiar.

Recentemente, em seu blog pessoal, o empresário deu mais detalhes do projeto:


O aoLimiar é uma iniciativa do Conselho SteamPunk, tem apoio de cada uma das Lojas regionais do conselho, tem sua infra-estrutura gerida pela dot . digital oriented technologies e conta com uma equipe competente e multidisciplinar que pretende tornar cada uma das transições completamente integradas com o uso cotidiano da Rede Social, entretanto não pretendemos que o aoLimiar pare por aí.

Sim, aoLimiar é um projeto que está cada vez mais consolidado, contribuindo com fóruns e comunidades para debater a situação da literatura fantástica no país em vários segmentos. Gostaria de ressaltar aqui uma particularidade dessa rede social a que acabei de me juntar por convite de Bruno Accioly: os livros e revistas virtuais que a iniciativa permite a cada um dos usuários criar. No meu caso, ontem inaugurei um espaço por lá com o livro Terroristas da Conspiração, no qual pretendo republicar os contos que escrevi para um universo ficcional criado juntamente com um outro blog. O texto que abriu os trabalhos foi justamente "A teoria na prática", minha primeira tentativa ficcional - sem contar com redações escolares, claro - que deu origem ao universo daqueles personages e que já foi publicado em forma impressa na coletânea que abriu a coleção Paradigmas, da Tarja Editorial, mesma editora de Steampunk - Histórias de um passado extraordinário.



Ao longo das próximas semanas devo ir republicando cada um dos contos daquele universo, que está aberto para outros escritores interessados em escrever suas próprias histórias nele, como já fizeram, por exemplo, Alexandre Lancaster e Rafael Lupo. Mas quero ressaltar que meu livro é apenas uma parte de uma verdadeira biblioteca virtual. No diretório de aoLimiar, os leitores podem encontrar mais de 20 opções de obras sendo produzidas. Algumas delas já comentadas por aqui, como o romance de pirataria e steampunk de Pablo Frazão Mensagens na Garrafa, sobre o qual falei no primeiro post da série Steampunk feito no Brasil. Ou então, Mitopoese, de Antonio Luiz M.C. Costa, comentado no post mais recente daquela mesma seção. O próprio Bruno Accioly participa com mais de uma publicação on-line: são dele Sistema Sol: crônicas, criado orignalmente como base de um sistema de RPG; Futuro do Pretérito, com as criações steamers do empresário; e LustCraft, com textos eróticos não recomendados para menores de idade.

Destaco ainda os textos de humor refinado do livro Arquivo de Esquecimento, de Karl Felippe; As Crônicas de Zafirina, paródias de clássicos da fantasia por Eric Novello, Count0Write1, cybercontos de Lidia Zuin; e Ficção Científica e Afins, espaço para artigos e resenhas de Ana Cristina Rodrigues e convidados. Uma grande variedade de títulos e de temáticas à disposição de todos os interessados em literatura fantástica nacional.

8.3.10

Eu no Contos Fantásticos

Meu caro Afonso Luiz Pereira edita um site de inestimável qualidade chamado Contos Fantásticos. Naquele espaço ele não apenas reúne um acervo de contos diversos, como também artigos e entrevistas com escritores dedicados à literatura de gênero nacional. Ele decidiu começar o mês de março me entrevistando, ora vejam. Nada menos que minha primeira entrevista sobre ficção científica, pela qual sou muito grato ao entrevistador pelo espaço e pelas palavras generosas no comentário. Foi a oportunidade também para eu falar um pouco sobre os motivos para a baixa frequência das atualizações deste blog. Mas quem sabe não seja o incentivo para voltar a repensar um pouco o TerrorCon? Afinal, fazendo as contas para informar o entrevistador, me dei conto de que publiquei aqui 78 contos, e eu detesto números quebrados :-)

Abaixo vão alguns dos trechos sobre este tema, a íntegra você pode ler aqui.

Costumo fazer na Internet uma rápida pesquisa sobre o meu entrevistado, pra não correr o risco de falar bobagem. Os blogues que você administra, TERRORISTAS DA CONSPIRAÇÃO e CIDADE PHANTÁSTICA, foram curiosamente criados para sustentar dois contos que iriam ganhar páginas impressas em antologias.  Do CIDADE PHANTÁSTICA, já sabemos que o assunto principal é o steampunk... e o TERRORISTAS DA CONSPIRAÇÃO? O que você pode nos falar sobre ele? Por que ele está, atualmente, abandonado? Desistiu dele? Desencantou? Pretende retomá-lo? 

O Terroristas da Conspiração foi criado a partir de uma brincadeira, de uma expressão que não entendi à primeira leitura. Novamente vamos ao orkut: em debate em uma comunidade, um participante utilizou o termo “teoristas da conspiração” no lugar do bem mais conhecido “teóricos da conspiração”. Quando notei aquilo, brinquei dizendo que tinha lido terroristas e comentei que daria um bom conto a ideia. Para minha surpresa fui incentivado de imediato, por mensagens no fórum e por email, a escrever mesmo algo assim. Estávamos na segunda metade de 2008, eu nunca havia me aventurado a escrever ficção.

Aquele comentário ficou em minha cabeça e poucos dias depois escrevi de uma braçada só uma narrativa curta usando aquele mote, de terroristas, não de teóricos ou teoristas, produzindo uma conspiração. Misturei elementos de contos do Cory Doctorow e de quadrinhos de Warren Ellis e Grant Morrison para imaginar um grupo do tipo. Dei o nome de “A teoria na prática” para o conto com o duplo sentido de, primeiro, ver como funcionaria na prática uma teoria da conspiração; segundo, como seria um sujeito que conhece a teoria da escrita de ficção a exercendo pela primeira vez na prática.

Criei o blog Terroristas da Conspiração para hospedar o tal conto, anunciei naquela mesma comunidade e, para minha surpresa, o texto agradou tanto a quem entende, estuda e produz FC quanto a pessoas que não tinham o hábito de ler o gênero. Achei isso muito interessante, pois, para mim, o gênero só vai conseguir de fato superar a tal invisibilidade se atrair interesse desses dois lados da fronteira. Passei as semanas seguintes escrevendo mais contos, dentro daquele mesmo universo, fazendo algumas experimentações com narrativas; deixei o convite para quem quisesse produzir suas próprias desventuras usando aquele grupo, logo surgiram escritores dispostos a tanto, me mandando suas versões para o universo dos terroristas da conspiração.

Logo me veio a vontade de expandir aquilo, como eu havia feito com o projeto Ponto de Convergência, para ser uma tentativa de dar visibilidade ao gênero. Comecei a publicar contos de vários escritores, de toda parte do país, mesmo que não tivessem nada a ver com a temática daquele conto precursor. Resgatei textos excelentes que estavam fora da rede, publiquei material inédito, enfim, reuni um catálogo ótimo do que é a produção nacional de literatura fantástica, com ênfase na FC.

De fato, aquele blog anda bem parado. Os motivos foram apontados nas respostas anteriores. Tem a ver com a minha falta de tempo atual, com o trabalho em C& T, assim como com a atenção que passei a dar ao blog steampunk e também com o atual momento de efervescência da FC nacional, com tantas obras sendo produzidas, na maioria das vezes, coletâneas de contos. Dei uma pausa porque é um bom momento para autores buscarem a publicação em papel, com editoras sérias que surgiram recentemente, como a Tarja, a Draco, a Terracota, enfim. Não gostaria de ver alguém prejudicado por ser barrado em alguma antologia porque publicou antes um conto no meu blog e a editora exige ineditismo, por exemplo. Se for o caso, em algum momento no futuro, quando eu tiver menos atolado de serviço, quando achar que o momento voltou a ser interessante para publicações on line, poderemos ver o blog voltar a ser atualizado.   
Quando digo que você é bem relacionado no jet set da nova leva de autores de FC, eu não estou te bajulando gratuitamente. Você conseguiu, no TERRORISTAS DA CONSPIRAÇÃO, uma façanha rara: agregar gente talentosa que contribuiu com 50 contos de Ficção Científica, sem que para isso tivesse que acenar algum tipo de premiação. Conte-nos um pouco os detalhes desta proeza?  

Olhe, a marca dos 50 contos, na verdade, foi atingida em novembro de 2008, quando dei a primeira parada no blog – e logo em seguida me veio o convite para escrever a noveleta steampunk e poucos meses depois, já em 2009, publiquei aquele conto inaugural na coletânea Paradigmas 1, da Tarja. Fui lá contar para ter certeza e, desde então, publiquei mais 28 contos no blog, ou seja, neste momento, são ao todo 78 contos de mais de 30 autores diferentes reunidos no Terroristas da Conspiração.
 
Posso dizer que conseguir a autorização para publicar os contos, alguns inéditos, outros publicados de forma virtual pela primeira vez, foi a parte mais prazerosa da empreitada e não foi difícil. Contei com a generosidade e o apoio realmente entusiástico de pessoas talentosas para isso. Como você ressaltou, sem acenar com nenhum prêmio, apenas pelo barato de construirmos juntos um projeto bacana que deu um belo espírito de união ao grupo. E que ajudou a dar visibilidade a vários trabalhos que, na verdade, mereciam ainda mais. Acho que houve apenas um caso de autor que não me deu resposta à solicitação para eu usar o seu conto, no mais, na esmagadora maioria a aceitação prontamente para que eu os publicasse. Em boa parte, senti um entusiasmo franco e houve ainda os que aceitaram contribuir com o universo ficcional dos Terroristas da Conspiração, outros que fizeram ilustrações especialmente para o blog... Enfim, nomear todo mundo seria a certeza de deixar alguém injustamente de fora.

Agora, dava trabalho escolher os melhores contos, buscar a autorização, tentar fazer a melhor chamada, encontrar uma imagem que casasse com o texto... Tudo isso sozinho, por mais de um ano, às vezes com o computador ou com a conexão empesteada. Olha, essa parte não foi exatamente fácil, e ela exige mais atenção, para garantir a qualidade geral, do que a que disponho agora para dar. Mas foi um projeto ótimo, do qual tenho tanto ou mais orgulho quanto o Ponto de Convergência.
 
 

25.12.09

Devilish Comedy

By Romeu Martins
Translated by Ludimila Hashimoto



 
“Never more a eunuch of the Lord!”

That was said with such resolution, still inside the royal palace, it left no doubt as to the gravity of the moment. The warrior turned his back on his former commander, then ahead, next to the exit from the oppressive environment, turned and yelled again, now beating his broad chest with his right fist.

“From this day on I use power in my own name, do you hear me? In my name only.”

Back in the streets, there was no need for energetic demonstrations. For the discontent mob that awaited him, just a nod was enough. So it was done. From the hands of a servant who waited obsequiously the warrior took the ostentatious sword - the origin of so much disgrace and destruction evoked by the master he had just forsaken.

Armed again, he strode towards the stables of the kingdom. The group of followers limited themselves to watching him from afar. The rebellious soldier chose from among the stallions the one that was red in color, the most vigorous and unruly of all. When the horseman, owner of the animal, went over and tried to understand the situation, he heard the voice that cannot be disobeyed.

“I am taking thy horse as a symbol of my intents. But thou and thy brothers shall wait, for I am returning soon to put an end to the idleness that afflicts those who cannot stand the impositions of that despot. That will be the day when the war will satisfy the hunger and thirst with long overdue rewards postponed in the name of cowardice.”

The horseman showed no objection, on the contrary; he gave way to the rebel with a smile on his face, concealed only by his bushy beard. Then he headed home to give his three twins the news: the days of glory, so long announced, were coming without further delay.

Sword on his back, ride between his legs, the soldier left the reign followed by a legion of faithful warriors. Many others would have followed him, but the fear of offending and stirring up the wrath of the ruler of those domains did not allow such boldness. However, even the most innocent of the cherubs knew that the days would never be the same again. The seeds of uncertainty then sowed were soon to show its blossoms. The nights of the Great Bonfires would soon resume to producing many other victims.

The journey of the revolutionary who renounced the High Lands would be neither quick nor easy. Before achieving their goal they went past intervenient cities, located in the perpetually litigious nation, and between the two major powers at the time. Even though he was aware of the importance of discipline among the troops, the general of the rebellious force allowed his men to plunder the villages on their long passage. Pillage, drinking and women would improve the army’s vitality after long days under the rules that annoyed everyone. Rules which, in the end, were the main reason why they had decided to follow a new leader.

The temporary rest would be used by the warrior to send emissaries ahead to the final destination of the march, in order to advance the plans he had in mind and which had been shared with very few members of his infantry. He would also use the time to write and reread letters that spoke of promises of love tender as flower pouring honey, dark grapes, flowers and dance, bodies and pain, incense and scent.

In times like this, the veteran of so many bloody battles caught himself sighing like a mere poet in love.

As they finally arrived at the doorway of the Lower Reign an army had already been lined up there to surprise most of the legionaries. The local force exceeded by far the visiting contingent both in number and in power of weapons. A blow of only one of their archers would be enough to kill a thousand birds in midair. Besides, the defensive troops were way better positioned, at a high place of an inexpugnable cliff.

Having achieved such an edge on his opponents gave the sovereign courage to go on the campaign in person. Apparently predictable, though not at all expected. Not from a creature known for always operating behind the scenes and for avoiding, whenever possible, physical encounters. There he was ahead of his many generals, looking down on the newly comers. No doubt he would demand that they drop their weapons and take an oath of loyalty to him. They would certainly be ordered to pay him honors in order to be admitted into his realms.

However, before either of the commanders of the opposing forces uttered any words, a voice was heard coming from the fragile looking litter that had followed the defense troops of the Lower Reign. The voice belonged to the woman who had been the queen even before the present ruler arrived for he was the usurper who had killed her first husband, taken the bloody crown and herself as part of the booty.

“Bring Lucifer on a tray for me.”

Having gotten used to betraying, the Prince of Lies had not expected the blow. He did not even have time to attempt a reaction when the hands of those who – he believed – were his most faithful servants grabbed him and dragged him for cruelty and torture. Gripes tore the flesh which is not flesh and shed blood which is not blood. Countless vengeances eagerly desired were satisfied in those moments of rage.

It was Beelzebub the demon in charge of performing the details of the order pronounced from the litter. But the woman no longer sat in the luxuriously decorated object. Now that they did not have to worry about being seen together, the queen was next to her lover, mounted with him on the flesh-colored horse excited with the smell of blood coming from the severed head with wide open eyes and half-open mouth lying by its hooves. It is not known for certain who started the chant, but it was soon followed by thousands of voices of the angels and demons congregated there, so intensely that the claim was clearly heard by the inhabitants of the three reigns.

“Hail Gabriel, hail Persephone, the new Emperors of Hell! Guide us towards the final victory over God and Humanity!”

14.12.09

Coletânea Steampunk recebe crítica internacional

Larry Nolen enfrentou uma drástica intoxicação alimentar por esses dias, leu mais de 500 livros este ano e mesmo assim encontou tempo para ler, nos últimos quatro meses, três vezes cada um dos nove contos que constituíram a primeira coletânea steampunk lançada no Brasil. O resultado da dedicação deste crítico da ficção científica é uma excelente resenha, muito bem contextualizada, que ele acaba de publicar em seu blog sobre Steampunk - Histórias de um passado extraordinário.




Nolen começa seu texto analisando o fato de que o subgênero explodiu em popularidade na última década, criando suas versões alternativas para a Era do Vapor (1775-1914), inspirado igualmente por Jules Verne, H. G. Wells, Thomas Edson, na Era do Imperialismo, e, especula ele, talvez como uma reação à confusão e ao horror do século XX. "De qualquer forma, as contradições inerentes nas estruturas social e política daquela época dão um sentido de tensão, algumas das quais explodiram nos conflitos devastadores do século XX, quando a guerra mecanizada inspirou novos horrores nos campos de batalha da Europa, da África e da Ásia (e, em grau menor,  nos da América e da Austrália)", relembra o resenhista. "Foi uma época em que Marx e Engels deram uma voz e um sentido às frustrações das classes trabalhadoras industriais através do globo; foi um tempo em que a prática repugnante da escravidão dava seus últimos suspiros nos EUA e no Brasil".

Na visão dele, todos esses elementos se combinam para criar possibilidades narrativas sobre realizações históricas e científicas compartilhadas. Sepultando de vez a noção de que só é possível se escrever sobre o gênero dentro dos limites do antigo Império Britânico, Larry Nolen aponta: "Em muitos sentidos, steampunk é um dos primeiros subgêneros verdadeiramente 'internacionais' da ficção especulativa, seu apelo se espalhou rapidamente de um país a outro, sem que um único país ou língua domine a paisagem literária". Ele ainda completa: "é verdadeiramente um movimento internacional, ele se adapta para atender às necessidades dos cenários literários de cada país".

Feita a análise do gênero em seus aspectos globais, o autor passa a se deter ao lançamento da antologia brasileira. Nolen comenta que, com as releituras das noveletas do livro, acabou desvendando, na maioria delas, novas camadas de significado. Então, passa a comentar algumas das histórias presentes no livro, "Cidade Phantástica" entre elas. Confessa que, quando teve acesso ao livro, em agosto deste ano, temia que os autores da coletânea tivessem imitado estilos e maneirismos de escritores anglo-americanos no lugar de escrever algo original sobre o tema. A opinião desse resenhista, que leu boa parte - se não podemos ousar dizer que tudo - daquilo produzido nos últimos anos dentro do estilo, é uma grata surpresa: "os elementos que esses nove escritores ultizaram são, para mim, mais atraentes do que os que encontrei na maior parte da ficção de steampunk em inglês na década passada". Ele percebeu uma tendência dark na antologia, uma frustação de que o avanço tecnológico e a ascenção de alguns não estejam favorecendo a todos como poderia. Nolen usa a imagem de uma nuvem negra que paira em algumas das histórias, uma nuvem que ameaça trazer destruição e mudança ruinosa em sua passagem.

Mr. Nolen observa que isso não significa que as histórias sejam excessivamente didáticas, desprovidas de aventura e de divertimento. "Steampunk - Histórias de um passado extraordinário é uma das antologias mais tensas e mais agradáveis que li em 2009, em qualquer língua". Ele prevê que a ficção feita no Brasil como um todo, uma potência emergente na FC, e o trabalho de alguns dos escritores da obra em particular deverão desafiar algumas concepções anglocêntricas e influenciar o diálogo global sobre o steampunk e sobre a ficção científica. "Altamente recomendado para aqueles que podem ler em português", ele finaliza. "Vai figurar durante algumas semanas no posto dos meus Melhores de 2009".

30.10.09

Paradigmas 1 no Aumanack

Acaba de sair uma nova resenha da edição de estreia da coleção Paradigmas. O responsável pela avaliação do livro, desta vez, foi outro escritor, Renato Azevedo, autor de outra obra publicada pela editora Tarja: De Roswell à Varginha. Como de hábito, vou deixá-los abaixo com o trecho que analisa meu conto e linkar a íntegra do artigo aqui:

A Teoria na Prática, de Romeu Martins, atualiza as tramas conspiratórias de forma bem explícita e divertida, e pode ser o conto mais próximo de nossa realidade de todos. Um dos melhores do livro.

28.10.09

Mais HQ de FC no Overmundo

Acabo de publicar uma resenha da minissérie em quadrinhos Eterno Retorno no Overmundo. Vou postar o início do texto abaixo e deixar o link para a versão integral onde a contribuição pode receber os votos de quem gostou do artigo.

Durante 170 anos Gao Jung esteve morto. Para desespero dele, tal período de hibernação involuntária, entre 2070 e 2240, deve ser sua experiência mais próxima daquilo que hoje em dia ainda chamamos de descanso eterno, pois, na nova realidade em que passou a viver, o rapaz está condenado a ser imortal. No máximo, ao ser abatido, Jung vai conseguir breves pausas nas missões que seus novos patrões lhe impuserem para, logo em seguida, ser despertado mais uma vez, com as memórias reimplantadas em um novo corpo, clonado e adaptado para melhor servir a interesses que não são os dele. “Se a morte é temporária, qual é o sentido da vida?” A pergunta é o mote por trás da minissérie Eterno Retorno, a primeira inclusão do universo ficcional do videogame on line Taikodom na área dos quadrinhos. História dividida em cinco capítulos e em dois volumes – o primeiro, lançado este mês nas livrarias, reúne os dois episódios iniciais; para novembro está programado o lançamento dos outros três no segundo e último álbum da série – a aventura assinada pelo roteirista Roctavio de Castro e pelo desenhista Eduardo Ferrara marca o primeiro aniversário da abertura do jogo ao público, fato que se deu no dia 27 de outubro de 2008. Além disso, é mais uma fronteira desbravada pelo projeto que conta com dois livros lançados, um romance e uma coletânea de contos, o primeiro deles já resenhado aqui no Overmundo. Continua

26.10.09

Mais lançamentos

Novas editoras, novos livros, mais opções para os leitores de literatura fantástica nacional. Neste final de semana, fiquei sabendo de duas novidades que logo estarão disponíveis no mercado.

Pela Tarja Editorial, Os dias da peste, de Fábio Fernandes, que já se encontra em pré-venda com 20% de desconto no site da editora.


E pela editora Draco, Xochiquetzal - Uma princesa asteca entre os incas, de outro escritor veterano da FCB, Gerson Lodi-Ribeiro, também com mais detalhes no endereço da editora.


23.10.09

Além da aldeia gaulesa

Um texto antigo sobre HQs francesas
para festejar meio século de Asterix

Por Romeu Martins



Este ano, Asterix, o mais tradicional e famoso personagem das histórias em quadrinhos da França, comemora o quadragésimo aniversário de lançamento do primeiro álbum [N.E.: Matéria redigida em 2000]. Fato que merece toda a atenção, pois o personagem, misto de peça de resistência e de obra-prima do argumentista René Goscinny (1926-77) e do ilustrador Albert Uderzo, é um marco histórico das HQs de todo o mundo, além de poder ser considerado um verdadeiro clássico, graças aos vários níveis de leitura que cada álbum permite. Mas restringir a um único personagem, por melhor que seja, a mais que centenária história da Bande Dessinée (como são chamadas as HQs francesas) significa deixar de lado várias dezenas de artistas cujas obras têm o mesmo gabarito daquela dos criadores do "irredutível gaulês".

Uma exposição que está cruzando todo o país é uma chance de manter a lição de casa em dia. Une Histoire de la Bande Dessinée en France, elaborada pelo Centre National de la Bande Dessinée, vale a pena ser vista pelo seu caráter didático e pela retrospectiva cronológica de seus painéis que reúnem ilustrações e textos sobre as BDs. A mostra recebeu uma oportuna tradução para o português, feita pela equipe da Aliança Francesa, uma associação sem fins lucrativos criada em 1883, que conta com 1080 sedes no mundo, 65 delas no Brasil. Muito útil pra quem não passa do "bõ-ju" e do "sivuplê". Em Florianópolis, que é de onde está sendo escrito este texto, a exposição ficou em cartaz por 15 dias, infelizmente sendo atrapalhada pelo feriadão do Carnaval, como lembra a professora Sylvie Colin. Da capital catarinense, o material segue para a Universidade São Carlos, em São Paulo, e de lá para a Aliança Francesa de Curitiba.

Antes de começar a falar sobre a retrospectiva feita pela mostra, vale registrar uma crítica. Une Histoire... se pretende uma exposição sobre HQs francófonas, e não apenas francesas. O que só se justifica pela presença de alguns artistas vindos de países como Bélgica e Suíça. Infelizmente, o organizador, Thierry Groensteen, deixou de lado os "faladores de francês" de fora do continente europeu. Perdeu-se com isso uma oportunidade única para se conhecer o trabalho de quadrinistas das ex-colônias africanas, por exemplo. Ou ainda da porção francesa de nosso inimigo comercial número 1, o Canadá, país do qual o único artista conhecido no Brasil vem exatamente do lado anglófono - John Byrne, que fez inúmeros trabalhos para editoras americanas como DC e Marvel. Registrada a crítica, vamos a tour pelo mundo das BDs.

Os pioneiros
- Não tem jeito. Em todo lugar do mundo sempre existe uma artista que fazia HQs antes daquele que é considerado o marco mundial do gênero - Yellow Kid, do americano Richard Outcault. Se até por aqui existiu o ítalo-brasileiro Angelo Agostini, os francófonos não poderiam deixar por menos. Para eles, quem inventou os quadrinhos foi o suíço Rodolphee Töpffer (1799-1846), que batizou sua criação de Littérature en estampes. Seus personagens eram todos anti-heróis, como Monsieur Crepi, pai de 11 crianças, ou o erudito Doctor Festus. O primeiro álbum de Töpffe data de 1833, nada menos que 63 anos antes da estréia de Yellow Kid nos EUA. O artista inspirou artistas como Cham (responsável por mais de dez álbuns), Richard de Querelles, Edmond Forest e, aquele que é considerado o mais fiel a seu estilo, Léonce Petit (1839-84).

Na área dos quadrinhos para crianças, o precursor foi Cristophe, nome artístico de Georges Colomb (1856-1945). Seu trabalho mais célebre, Família Fenouillard, foi lançado junto com as comemorações da Exposição Internacional sediada em Paris (que foi marcada pela inauguração da Torre Eiffel), em 1889. Virando o século, no período entre-guerras, surgiu outro nome importante da BD: Alain Saint-Ogan (1895-1974), criador de Zig et Puce. Com um traço mais limpo e estilizado que o de seus predecessores, o artista foi responsável pela introdução na França de um dos elementos mais associados com as HQs no mundo: o balão para fala e pensamento dos personagens. Os puristas consideram este como sendo o verdadeiro marco inicial das BDs. Até então, as obras em quadrinhos naquele país eram feitas com as ilustrações e os textos separados, sem interação entre as duas partes, como se fossem livros ilustrados.

Artistas estrangeiros - A década de 30 foi marcada pela forte presença de artistas estrangeiros lançando seus trabalhos em solo francês. Como não podia deixar de ser, o nascente império Disney foi o primeiro a aproveitar a brecha e introduzir seu material pasteurizado na aldeia dos gauleses. Para tanto, Walt Disney contou com a colaboração de Paul Winkler, que no dia 21 de outubro de 1934 lança o Journal du Mickey e consegue uma impressionante tiragem de 300 mil exemplares. O sucesso inspira o lançamento de outros clássicos ianques, como Popeye, Flash Gordon, Mandrake, Tarzan, entre outros.

Influência mais enriquecedora que o rato americano foi o trabalho do belga Georges Remi (1907-83), mais conhecido no mundo inteiro pelo som de suas iniciais invertidas Hergê (ou seja, RG). Ele criou um dos poucos personagens francófonos que pode rivalizar em matéria de fama com Asterix. Tintin, um jornalista que vive aventuras por todos os países do mundo (e, na verdade, até na Lua), foi criado em 1929 no suplemento Petit Vingtième. Uma frase do artista foi destacada na mostra: "A grande dificuldade em fazer BDs é mostrar exatamente o que é necessário para a compreensão da narrativa - nem mais, nem menos". Hergê criou um estilo que para muito virou sinônimo de quadrinhos franceses: a chamada Linha Clara, que traz personagens extremamente estilizados e cenários feitos com muito realismo. Infelizmente a mostra não chama atenção para o fato.

A presença de estrangeiros em território francês não poderia passar em branco. Houve uma violenta reação, nos anos 30, dos comunistas e dos católicos contrários ao que consideravam um meio para "esterilizar a inteligência francesa" e de "preparar um povo de escravos". A crítica moralista batia principalmente na violência e na sensualidade de algumas histórias (de um modo bem parecido com o que iria acontecer na América, 20 anos mais tarde, quando foi lançado o livro A Sedução dos Inocentes com pesadas críticas às HQs). Ao mesmo tempo, artistas franceses resolveram se unir para tentar banir material estrangeiro dos jornais locais. Eles queriam 100% de mercado garantido para a produção nacional. Não chegaram a tanto, mas a pressão fez surgir uma Comissão de Fiscalização, que entrou em vigor no dia 16 de julho de 1949, com influências tanto moralistas quanto protecionistas. Seria preciso muito esforço para vencer um certo clima de censura no ar.

Publicações revolucionárias - Nos anos seguintes, surgiram publicações que fariam história. Nos anos 50 e 60, as principais revistas eram os semanários Tintin e Spirou. A primeira, comandada, é claro, por Hergê, publicava HQs mais sérias, com alguma pesquisa e documentação. Na segunda, o que valia era a fantasia e a sátira de costumes. O principal artista de Spirou era Jijé (Joseph Gillain, 1914-80), criador de Fantasio. A exemplo de Hergê, ele também definiu um estilo, conhecido por Escola de Marcinelle. A influência é sentida em vários artistas, entre eles Morris, o desenhista do cowboy Lucky Luke, criado em 1946. Aliás, uma preciosidade da exposição é justamente uma página de roteiro escrito por Goscinny e a respectiva página ilustrada por Morris.

Outra revista definitiva foi a Pilote, criada em 1959, cujo número inicial trouxe a estréia de Asterix - o personagem ganharia o primeiro álbum, com história completa, em 1961. "Pela minha ação como diretor de Pilote, quebrei os grilhões que aprisionavam as BDs". A frase de Goscinny pode parecer pretensiosa, mas é justa. Foi com os trabalhos apresentados naquela revista que o tal ar de censura dos anos anteriores começou a ser diluído pouco a pouco. Com a influência da Pilote e da convulsão social pós-68, começou a surgir material mais underground, como a revista Hara-kiri, unindo o melhor do que era feito na mundo (Buzzelli, Crepax, Muñoz, Schulz) e apresenteando uma nova geração de franceses, estreando uma nova forma de humor, o "Bête et Méchant", algo como "Burro e Mau". Um dos novatos da época, Wolinsky, é influência assumida do brasileiro Angeli e a Hara-kiri, por sua vez, inspirou a melhor revista brasileira de todos os tempos, a Chiclete com Banana.

Como as pedras estavam rolando e o limo sendo retirado, as BDs estavam prontas para sua maior revolução estilística e narrativa. A craição da revista mensal Metal Hurlant colocou definitivamente a produção francesa na vanguarda mundial, graças à modernidade gráfica e à qualidade editorial da nova publicação. Foi nela que Moebius (Jean Giraud) apresentou suas maiores obras-primas, voltadas especialmente para a fantasia e a ficção científica. A revista ganhou uma versão mais célebre, não necessariamente melhor, nos EUA, a Heavy Metal, que muitos citam sem mencionar a original gaulesa. É de material dessa qualidade, e de muitos outros artistas dos quais nem chegamos a falar (como o ótimo Jano que vai lançar em breve uma obra sobre o Brasil), de que é feita a Bande Dessinée. Sem dúvida uma das maiores contribuições da França e de seus países irmãos tanto para o universo pop, quanto para o underground - no mínimo tão importante quanto o cinema local e sem dúvida melhor que a música contemporânea deles, por exemplo.

Matéria originalmente escrita para o e-zine O Malaco e republicada no Marca Diabo

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